O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM) cresceu por méritos próprios e por absoluta falta de líderes na planície da política. Ele fala em nome da maioria da Câmara. Desenvolveu esta habilidade mais se adaptando ao que querem os líderes do que formulando caminhos e liderando cabeças.
Estamos vivendo um apagão de verdadeiros timoneiros de ideias e de projetos. Nos últimos anos os grandes concentradores de propostas foram substituídos nas lideranças e depois nas presidências pela capacidade de alavancar financiamento e de derramar dinheiro nas campanhas do que pelo brilho próprio que tem todo dirigente. A Lava Jato prendeu estes chefes compradores de deputados e senadores, os donos dos balcões, e os deputados e senadores estão de novo perdidos sem saber como viabilizar as próximas campanhas.
Pessoalmente, Rodrigo Maia não se entende com o presidente Jair Bolsonaro (PSL). As divergências são antigas e até paroquiais. Os dois fazem política no mesmo reduto, o Rio de Janeiro, onde apesar de líder nacional, Maia teve dificuldades para se eleger, pouco mais de 74 mil votos. Além da sua eleição com folga no estado, Bolsonaro elegeu o filho Flávio como senador, tem o vereador Carlos e Eduardo como o deputado mais votado do Brasil, com mais de 1,7 milhão de votos, este eleito por São Paulo. Aí está a origem da dificuldade política.
Só que nas idas e vindas o presidente da Câmara, mais político do que Bolsonaro, apesar de menos votado, fala em nome do Brasil. Aponta dificuldades que se tornaram óbvias no governo e isto agrada a políticos. Não são só colegas, agora importantes apoios a Maia, que chegam ao governo, assustam. Parte importante do empresariado que apoiou Bolsonaro diz que Maia está com a razão. Ele traça um quadro caótico.
Estagnação, paralisia e o popular caminho do brejo. O discurso está longe de ser pessimista, pelo contrário alerta que ainda bem que o Congresso está vigilante, como fiador da estabilidade política e que poderá salvar o país, mesmo com “críticas” dos aliados do presidente. O presidente da Câmara ainda não engoliu as críticas recebidas durante as últimas manifestações. Credita o ataque ao grupo do presidente Bolsonaro. Destila rancor, que na política vira moeda de resistência.
Foi exatamente neste cenário que Bolsonaro decidiu atravessar a Praça dos Três Poderes pela segunda vez para entregar um projeto estranho. É a contramão da tendência mundial, fim do rigor em punições, mais tempo para a carteira e o dobro de pontos para a suspensão do direito de dirigir. Mesmo assim valeu pelo encontro com Maia e um aceno para deputados. A desconfiança é total para um governo que deixa medidas provisórias caducarem. O embate mostrou que o governo só consegue aprovar lei com a ajuda da oposição e quer fazer reformas constitucionais. Alguma coisa não está equilibrada na avaliação política do país. É por isso que o Centrão (que não existe) está no comando do Congresso.
*Correspondente da Rádio Jovem Pan e comentarista da Redevida de TV