Desde os tempos em que eu vivia freneticamente nas redações, ouvia de meus contemporâneos ligados à cobertura policial o termo “punguista”. De forma pejorativa, o cidadão adjetivado sempre era ridicularizado, mas reconhecido pela sua destreza em executar o crime ou contravenção. Checavam as ocorrências de prisões e, às vezes, não davam importância.
Era apenas um punguista. Alguns já eram conhecidos e faziam parte do acervo policial dos jornalistas. Eram ótimas fontes pelas suas vivências com o submundo do crime. Batedores de carteiras com incrível habilidade, que muitas vezes serviam de informantes para apuração de um “crime maior”. Seus nomes e contatos faziam parte de um arquivo jornalístico policial. Sempre sabiam das coisas pelo fato de transitarem pelas ruas, em meio a grandes movimentos. Profissionais como Gabi Santos, Ruiter Miranda, Pedro Carrapeta, João Gabriel, Arnaldo Viana, o irrequieto Zé Cleves e outros sabiam onde encontrá-los para confirmar uma informação ou mesmo uma suspeita.
Este tipo de reportagem está em desuso, mas punguistas ainda batem carteira, porém, elas não carregam dinheiro e por isso hoje preferem o celular. O crime também mudou, evoluiu. Os exemplos aparecem a toda hora e não deixam de escandalizar a sociedade. O mais recente, de grande repercussão, tem ares de um punguismo elitizado.
As manchetes que estão nas mídias escancaram punguistas que roubam presentes valiosos, joias para revender fora do país, são internacionais. E o punguista comete outro crime, abre caminho para a carteirada ou a fardada. O país acompanha como uma novela o caso das joias entregues ao governo brasileiro por autoridades árabes. Os mesmos que contrataram Neymar a peso de diamantes.
Cada dia um capítulo novo, envolvendo familiares do ex-presidente, o próprio e seus assessores militares de alta patente. Em um dos capítulos até apareceu um sargento do baixo escalão, mas que segundo levantamentos, movimentou mais de R$ 11 milhões em três anos no cargo no Palácio da Alvorada. E o pior é que não existe nenhuma destreza no golpe praticado. Meteram as joias na mala e usaram o avião presidencial para vendê-las nos Estados Unidos, deixando uma infinidade de rastros. Até mesmo o reflexo em uma foto do produto a ser vendido. Além disso, existem ainda conversas feitas por WhatsApp. Um amadorismo de milhões.
A apuração continua e é norteada por provas incriminatórias produzidas por eles mesmos. Primeiro fazem ameaças e depois começam a soltar pílulas do modus operandi do crime. A polícia vai juntando tudo como um quebra-cabeça. É coisa de quadrilha de punguistas, não pode e nem deve dar certo. Venderam uma das joias e depois pagaram mais caro para reaver o produto do furto. Aí entra em cena um advogado de ação notória nas confusões da tal família.
Segundo ele, fez isto para ajudar seu país a recuperar um bem. Se ouvirem dizer que pretende trazer de volta alguma empresa que Paulo Guedes vendeu, não duvide. Tem muita cara de pau. Os envolvidos, como sempre, são os mesmos que prometeram acabar com a corrupção e a roubalheira no país. Muita gente deve lembrar que no governo passado alguém falou que se dessem para ele um jipe, um sargento e dois soldados, ele fechava o Supremo Tribunal Federal (STF). Parece que ele pegou um general, um coronel e 4 sargentos e fizeram a limpa nos cofres. Se o país entrar em guerra, irá derrotar os inimigos roubando o armamento deles. Não daremos um tiro sequer.