Convictos de que os cemitérios podem ser uma galeria a céu aberto, pesquisadores da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais (Abec) organizaram uma agenda de visitas mediadas de forma gratuita pelo país. Há programação no estado do Pará, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
Fundada em 2004, a partir de um encontro que ocorreu na Universidade de São Paulo (USP), a Abec tem associados em quase todos os estados do país. A Associação tem como objetivo desenvolver o estudo dos cemitérios e suas respectivas manifestações culturais, históricas, artísticas e afins.
Em Minas Gerais, é o cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte, que recebe as visitas guiadas. Marcelina Almeida é a coordenadora do projeto na cidade e faz parte da Abec. Ela é historiadora e doutora em história pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Temos promovido essa interface por meio da educação patrimonial, com estímulo ao turismo. Acredito que existe uma necessidade de entendermos esses lugares como espaços de educação não formal e, principalmente, como local de pesquisa, que discute questões importantes sobre as pessoas e sociedades de modo geral”.
Ela destaca que, atualmente, já podemos enxergar os cemitérios como espaços museográficos. “Sempre defendo a ideia de que há tipos diferentes de museus, não podemos esperar que os cemitérios sigam as mesmas diretrizes e formatos. Esses locais, em sua complexidade e diversidade, podem ser tratados como lugares a serem musealizados e entendidos como ambiente de aprendizado, apreciação estética e discussões para além da sua principal função, que é sepultar os mortos”.
Para a historiadora, o Cemitério do Bonfim possui uma importância para Belo Horizonte por se tratar do primeiro cemitério público construído e planejado junto com o próprio município, no final do século XIX. “Nesse sentido, o Bonfim surge a partir dessas novas concepções, sobre o lugar dos mortos e a questão da higiene. Essas ações já faziam parte de debates no início do século XVIII e assim podemos, por meio do Cemitério do Bonfim, entender essa discussão e pensar um pouco no nascimento da capital moderna e republicana que se configura na cidade de Belo Horizonte”.
Visitas ao Bonfim
Marcelina pontua que a ideia de criar as visitas guiadas nasceu de um interesse particular. “Eu já levava minhas turmas de design de ambientes da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). E, somando-se ao interesse da Fundação de Parques, fizemos esse projeto de unir uma atividade acadêmica com a de extensão que pudesse ser oferecida a população em geral”.
Ela conta que o projeto recebe, em média, 1.500 pessoas por ano. “Ao longo do tempo, percebemos que havia potencialidades temáticas. Por exemplo, já realizamos visitas sobre artes, presença feminina, literatura, imigração/imigrantes, esportistas e religião”.
Nana Andrade, publicitária e professora, teve a oportunidade de fazer esse passeio recentemente. “O que mais gostei da visita é a abordagem que a Marcelina faz junto com a sua equipe. A escolha dos temas, a forma sensível e profunda que ela aborda os assuntos, além de entender a história e as questões que envolvem a cidade, através dos túmulos e do design cemiterial. Recomendo para quem gosta de história e quer conhecer um pouco mais do lugar onde vive”.
As visitas ao Cemitério do Bonfim acontecem de fevereiro a novembro, sempre no último domingo do mês. No dia 25 de junho, o passeio será sobre signos e símbolos no espaço cemiterial. Os interessados devem acessar o site da prefeitura de Belo Horizonte, entrar no link da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica e clicar em visita guiada ao Cemitério do Bonfim, onde tem a relação das datas e temas. O passeio é gratuito.