Durante a pandemia da COVID-19, muitos donos de pequenos negócios em Minas Gerais precisaram recorrer a algum tipo de crédito bancário para garantir o funcionamento da empresa. De acordo com um levantamento realizado pelo Sebrae e Fundação Getulio Vargas (FGV), 45% solicitaram empréstimo bancário e mais da metade (59%) tiveram o recurso aprovado. Em relação a situação dessas dívidas, 34% disseram estar em dia com o pagamento, mas 26% estão em atraso.
No caso de 38% dos entrevistados, o débito corresponde a menos de 30% dos custos mensais da empresa. Para outros 36%, o comprometimento chega entre 30% e 50% das despesas. “Pelo menos 65% dos pequenos negócios mineiros que participaram do estudo ainda registram queda no faturamento. Esse aperto torna ainda mais relevante a necessidade de uma boa organização financeira para equilibrar as contas”, alerta Bárbara Alves, analista do Sebrae Minas.
A pesquisa também revelou que 39% tiveram o recurso negado e 3% ainda estão aguardando resposta das instituições. Segundo Bárbara, mesmo com a ampliação do acesso a crédito, os donos de pequenos negócios ainda encontram muita dificuldade para tomar empréstimos. “É importante o desenvolvimento de políticas públicas que facilitem o uso de garantias, como é o caso do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe)”, explica.
Giselle de Freitas é proprietária de uma pizzaria e conta que o estabelecimento, com quase 30 anos de tradição, já viveu tempos difíceis durante os momentos mais críticos da crise sanitária. “Tudo teve que fechar as portas e o atendimento ficou apenas no delivery. Para cortar custos, usei o programa do governo que permitiu a suspensão do contrato de trabalho de funcionários. Nossa média de faturamento caiu mais da metade na época. Até hoje não conseguimos recuperar os lucros, mas estamos quase perto de alcançar”.
Ela diz que quase fechou a pizzaria, mas recorreu a um empréstimo pelo Pronampe e conseguiu R$ 200 mil. “Foi um dinheiro que veio na hora certa para compra de matérias-primas, pagamento de contas, fornecedores e salário dos funcionários. As parcelas somam pouco mais de R$ 5 mil mensais. O maior problema são os juros que são atrelados à Selic. Quando solicitei a quantia, eles estavam em 2,75%, agora ultrapassam os 12%. Teve mês que precisei me virar para quitar o débito. Se continuar assim, vai chegar uma hora que ficará complicado honrar os compromissos”, relata.
Paulo Aguiar é dono de um bar e também sente que o faturamento da empresa não é o mesmo pré- -pandemia. “Antes chegava aos R$ 160 mil mensais, agora, não tem passado dos R$ 100 mil. Em 2021, passei por um grave período de crise e quase encerrei o negócio. Tinha contas a pagar, mas não entrava dinheiro em caixa suficiente. Consegui um empréstimo de R$ 200 mil para pagamento da folha salarial dos 8 funcionários, assim como despesas de aluguel, energia, entre outros”.
Ele afirma que desde que as restrições de circulação foram encerradas, a situação foi melhorando devagar. “Ainda não recuperamos totalmente os lucros. Hoje em dia, pelo menos 30% do orçamento do bar está comprometido com as parcelas do empréstimo. O valor mensal aumentou muito por conta da elevação da Selic. Estou ficando praticamente sem dinheiro em caixa, porém, ainda estou conseguindo pagar e manter o funcionamento do estabelecimento”, conta.
Socorro às micro e pequenas empresas
As micro e pequenas empresas (MPEs) são responsáveis por 55% dos empregos, 99% dos negócios e 30% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Durante a pandemia da COVID-19 foi criado o Pronampe, um dos programas mais importantes para garantir a sobrevivência das MPEs. Desde seu início, já emprestou um total de R$ 62 bilhões. Em 2020, foram R$ 37,4 bilhões, em cerca de 520 mil operações. No ano seguinte, o valor concedido caiu aproximadamente 33%, para R$ 25 bilhões, em 325 mil contratos.
Para o economista Fernando Almeida, o Pronampe é uma iniciativa válida de socorro aos pequenos negócios. “No entanto, o Banco Central (BC) vem promovendo sucessivos reajustes na Selic, que voltou a ter dois dígitos após 4 anos e meio. E o programa é atrelado a essa taxa de juros, que à época dos primeiros empréstimos, em 2020, estava em 2,25% ao ano. Um dos efeitos do avanço do custo do crédito é o aumento da inadimplência no Pronampe”.
Ele esclarece que o BC eleva a Selic na expectativa de conter a inflação. “Uma das alternativas para aliviar essa alta seria a ampliação dos prazos de pagamento. No Pronampe, o empresário pode solicitar o prolongamento por mais 12 meses para parcelas vencidas e vincendas”, finaliza.