Em 29 de outubro é celebrado o Dia Nacional do Livro, a data escolhida refere-se à transferência da Real Biblioteca portuguesa para o Rio de Janeiro, que originou a Biblioteca Nacional, em 1810. Hoje, existem 6.057 bibliotecas públicas em funcionamento no Brasil, mas a incorporação do hábito de ler à rotina do brasileiro ainda é um desafio. Os fatores vão desde falta de tempo, compreensão e paciência.
Segundo a pesquisa O Livro em Minas Gerais, realizada pela Câmara Mineira do Livro (CML), que investigou o comportamento do leitor e os hábitos de leitura dos mineiros, pouco mais da metade (52%) dos entrevistados afirmam gostar muito de ler; 35% gostam pouco e 11% não gostam de ler. Belo Horizonte é a cidade com maior número de pessoas que afirmam gostar de ler (63,14%), seguida por Juiz de Fora (58,59%), Poços de Caldas (57,47%), Teófilo Otoni (58,72%) e Divinópolis (55,08%). Montes Claros e Uberlândia são os municípios que apresentam maior percentual de entrevistados que afirmam não gostar de ler (25,71% e 22,79%, respectivamente).
Por outro lado, ainda é alto o percentual de entrevistados que não lê nenhum livro. As cidades com maior taxa de não leitores são Patos de Minas (60,4%), seguida por Belo Horizonte (56,0%), Governador Valadares (55,1%), Teófilo Otoni (52,3%), Divinópolis (50,0%), Poços de Caldas (46,0%), Montes Claros (45,7%), Uberlândia (44,9%) e Juiz de Fora (40,7%).
Quando questionados sobre as dificuldades ou limitações para a leitura, 36,29% dos entrevistados responderam que não têm paciência para ler e 19,54% alegaram não ter tempo. Em Montes Claros e Belo Horizonte chama a atenção o elevado percentual de entrevistados que afirmam não ter paciência para a atividade (71% e 62%, respectivamente). Em Juiz de Fora e Governador Valadares, o percentual é de 45,45% e 43,40%. As cidades de Governador Valadares e Patos de Minas concentram o maior número de respostas na questão relativa à falta de tempo para ler (30,19% e 31,58%, respectivamente). Poços de Caldas e Uberlândia são as cidades com maiores percentuais referentes à ausência de dificuldades para a leitura (43,64% e 42,50%). Em Uberlândia, é significativo o percentual de entrevistados que afirma não compreender o que lê (20%).
Para a psicopedagoga Ângela Mathylde, o conceito limitado que a sociedade tem sobre ler desvirtua todas as possibilidades da leitura. “Devemos desmistificar que trata-se só de ler e escrever. Existem várias formas de se ler, como a leitura corporal, a dramatização. O livro é uma maneira, mas temos teatro, cinema e o que interessa são as formas que levam um indivíduo a ter um pensamento crítico sobre si e outras pessoas. A leitura abre esse mundo de novas oportunidades”. E os benefícios são variados. “O ato da leitura estimula as funções cerebrais, coerência, assertividade e relacionamento com as pessoas”, completa Ângela.
Kênia Werneck, coordenadora do projeto literário do Colégio ICJ, acompanha de perto a evolução do hábito de ler em crianças de 7 a 11 anos. Ela acredita que o segredo é focar na infância. “Os adultos de hoje não tinham tanto incentivo à leitura como agora. Houve uma época em que os pais colocavam para ler como castigo. Atualmente, a gente percebe que a criança desde pequena deve ser estimulada a valorizar o ato de ler e que isso seja prazeroso e não punitivo”, acrescenta.
O objetivo do clube do livro coordenado por Kênia é aguçar o interesse pelo ato. “Quanto mais a criança se aproxima de uma forma prazerosa dos livros, maior é a oportunidade de enriquecimento do vocabulário, organização de ideias, imaginar, adquirir conhecimentos e noções de temporalidade (passado, presente e futuro)”.
Com o projeto cada criança lê, no mínimo, 9 livros, mas também há o momento de ir até a biblioteca à procura do gênero preferido e pessoal de cada criança. Graças a esse incentivo, a professora aponta que o número de livros lidos, por criança, chega a 24 por ano.