Que o brasileiro é solidário todo mundo sabe, tanto que a pesquisa realizada pela organização britânica CAF – Charities Aid Foundation e divulgada pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) revelou que, no ano passado, 70% da população fez algum tipo de doação em dinheiro.
O estudo apontou ainda que a quantia média doada nos últimos 12 meses foi de R$ 200. O valor é R$ 50 menor que 2017. Os dados mostram que a principal razão que leva o brasileiro a doar é se sentir bem consigo, metade dos doadores disseram isso. Cerca de 42% deles se importam com sua causa e 40% doaram para ajudar os que mais precisam.
A diretora de comunicação do IDIS, Andréa Wolffenbüttel, explica que o brasileiro gosta de ajudar, mas que as doações ainda não são vistas como um ato cidadão e que pode melhorar nossa sociedade. “Doamos muito porque somos levados pelo coração, quando vemos que alguém sofre, queremos aliviar isso. Não temos familiaridade com o conceito de causa”.
A auxiliar de departamento pessoal Lavínia Souza quis ajudar o próximo durante a ida para o trabalho. “Sempre entrava um pessoal no ônibus oferecendo livros infantis, balas e canetas. Quando tinha um trocado, sempre ajudava, um dia comecei a ler e me interessei em buscar mais informações”.
Ela pesquisou sobre ONGs e descobriu que tinha uma próxima a sua casa. “A instituição ajuda adolescentes que são dependentes químicos. Eles fazem bazar, alguns eventos e eu comecei a auxiliar. Sei para onde meu dinheiro está indo e me sinto bem em fazer parte da mudança na vida de tanta gente”.
Andréa diz que as doações precisam ser pensadas de maneira racional. “Além do emocional, as pessoas se sentem bem ao doar, pois percebem que fizeram algo para ajudar o próximo. É o reflexo imediato da empatia e solidariedade. Mas esse não é o caminho para as doações mais estratégicas e de longo prazo. Por exemplo, quase todo mundo concorda que a corrupção é um dos grandes problemas que enfrentamos. Mas quantas pessoas doam para organizações que combatem a corrupção?”.
Segundo ela, o universo de instituições que vivem de doação no Brasil é amplo e diversificado. “O país atravessou uma profunda crise econômica e política que fez com que as doações diminuíssem de valor. A última pesquisa divulgada a esse respeito – o Brasil Country Report 2018 – mostrou que a doação anual média dos brasileiros caiu R$ 50, uma redução de 2%”.
Ela acrescenta que o investimento social realizado por empresas já foi mais alto, caiu e tem se mantido estável nos últimos 2 anos. “A situação das organizações varia muito dependendo do porte de cada uma, da estrutura de captação de recursos que dispõem e também da causa à qual se dedicam. Sabemos que, historicamente, as que se dedicam à saúde e ao público infantil tendem a contar com maior adesão dos doadores”.
O fundador da ONG Comunidade em Ação, Marcos Antônio Crispim, relata que é comum enfrentarem problemas para arcar até mesmo com as despesas mais simples como água, luz, equipamentos para as atividades e ajuda de custo para os voluntários. “Nós fazemos bingos, vendemos camisetas do projeto e nos dedicamos para angariar doações, mas é difícil”.
A ONG auxilia crianças, jovens e adultos da comunidade do Alto Vera Cruz a desenvolverem atividades de esportes e educação. “Na área de esportes temos muay thai, jiu jitsu, taekwondo, capoeira, futebol e natação. Na educação, inglês, reforço de português, música, além de atendimento jurídico e psicológico”.
Para ele, apesar da população ser adepta a doação, a sociedade poderia fazer mais. “Falta interesse em conhecer o projeto de perto e ver as atividades que estão sendo realizadas. Acho que a visão que muitas pessoas têm sobre projetos sociais é de lavagem de dinheiro ou assistencialismos e não é isso, nós fazemos a diferença na vida de muita gente”.
A relação das ONGs com a população pode ser estreitada por meio do projeto Descubra Sua Causa, lançado pelo IDIS. A plataforma visa fomentar a cultura de doação no Brasil de um jeito leve e descomplicado. Trata-se de um teste online que ajuda a pessoa a se conectar com ideias com que se identifica e conhecer as organizações que pode ajudar.
Andrea acredita que o teste leva as pessoas a pensarem sobre o fato de que todos tem uma causa e que ela precisa refletir nossos valores e o que queremos mudar no mundo. “Esse posicionamento traz um ponto de vista a partir do qual as pessoas podem começar a se importar com problemas específicos e, talvez, decida contribuir com as organizações que lutam para que eles sejam sanados ou minimizados”, conclui.
Acesse o portal e descubra sua causa: https://descubrasuacausa.net.br/