Os dados sobre o ensino no Brasil são alarmantes. Segundo o relatório Education at a Glance 2017 (tradução livre “um olhar sobre a educação”), feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2015, mais da metade dos adultos, com idade entre 25 e 64 anos, não tinham acesso ao ensino médio e 17% sequer concluíram o ensino básico. Esses números estão muito abaixo da média dos países da OCDE, que têm 22% de adultos que não chegaram ao ensino médio e 2% que não concluíram o básico.
Para além disso, de acordo com o Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf), de 2018, três a cada dez pessoas de 15 a 64 anos são considerados analfabetos funcionais. Esses dados representam 29% do total, o equivalente a cerca de 38 milhões de brasileiros, sendo que, há 10 anos, essa taxa está estagnada.
A coordenadora pedagógica da Educação de Jovens e Adultos do Colégio Padre Eustáquio, Schirley Silva, explica que o analfabeto funcional pode ser caracterizado por aquela pessoa que desenvolve alguns mecanismos para conseguir sobreviver na sociedade, onde a maioria das informações estão disponíveis apenas para quem ler.
Ademais, a classificação leva em consideração os conhecimentos em português e matemática. “O analfabeto funcional não consegue ler, mas sabe qual ônibus pegar; não sabe fazer as contas matemáticas, entretanto, não dá troco errado. De alguma forma, essas pessoas desenvolvem capacidades para se adaptar”.
Schirley elucida que esse alto índice de pessoas analfabetas funcionais deve-se, principalmente, por falta de políticas públicas que estimule os jovens e crianças a estudarem. “Muita gente larga a escola cedo para poder trabalhar, pois a necessidade maior é a do sustento. Elas passam anos sobrevivendo a partir das suas necessidades e procuram as salas de aulas mais tarde, depois que já criaram família, ou então nem voltam”.
E essa falta de conceito prejudica de maneira decisiva na vida. “A falta de leitura, seja ela de texto ou de conteúdos matemáticos, impede a pessoa de entender informações que podem ser determinantes. Para além disso, é um dificultador da comunicação, afinal ela pode se expressar apenas pela oralidade”, finaliza a professora de português Mary Guimarães.
Na telinha
Um exemplo de analfabeto funcional é o personagem Sassá Mutema da novela “Salvador da Pátria”. Interpretado por Lima Duarte, o protagonista da novela é um boia-fria, analfabeto (sabia apenas escrever o seu nome) e viu-se obrigado a casar com a amante de um político conhecido para tentar disfarçar o adultério.
No enrolar da trama, Clotilde Ribeiro (Maitê Proença), professora universitária, leva a sua tese para ser desenvolvida em Tangará, cidade onde se passa o folhetim. Em contato com os boias-frias, ela os ensina a ler, enquanto colhe dados para o seu trabalho sobre o processo de dedução lógica num adulto alfabetizado.