Têm me chamado a atenção as minguadas páginas que jornais e revistas vêm dedicando à economia. A revista Veja da semana passada, por exemplo, dedicou à Economia exíguas três páginas – e, mesmo assim, com uma “matéria fria” sobre a proliferação das maquininhas de leitura de cartões de crédito. Nos jornais, até mesmo naqueles que normalmente dedicam espaços consideráveis às notícias econômicas, tem sido a mesma coisa. Uma notícia aqui a respeito do comportamento de determinado segmento do mercado ou sobre o lançamento de um novo produto, mais outra ali sobre o crescimento da economia. Quase nada sobre investimentos, consumo, expansão de mercados, projeções de negócios. E não é porque os jornalistas que cobrem o setor não continuem batalhando por notícias – elas é que não estão acontecendo.
Há por detrás disso, acho eu, uma razão muito simples: a política, com a absurda confusão que dela tomou conta, especialmente no plano federal. Não se tem hoje a menor ideia do que irá sair das urnas em outubro, e, pelos currículos dos pré-candidatos já anunciados, não é de se esperar que venha boa coisa. Neste contexto em que tendências ou preferências políticas se acirram e extrapolam aquele que deveria ser seu ambiente natural – o Congresso e o Executivo – ela mobiliza agora até mesmo o Poder Judiciário, onde hoje se faz política aberta e explicitamente até no STF, como a TV Justiça nos mostra cotidianamente. É natural, portanto, que o noticiário político ganhe espaço muito maior que a economia nos jornais, revistas, TV e, principalmente, nas redes sociais. E é também natural que neste ambiente de incertezas absolutas nenhuma grande corporação, nenhum grande empresário, sem saber o que irá encontrar pela frente, queira correr riscos. Estão, naturalmente, em compasso de espera, com investimentos paralisados e decisões adiadas. Enfim, tocando o barco com cautela.
Este preâmbulo serve para contextualizar minha convicção, já expressa neste espaço em mais de um artigo, de que a retomada do crescimento econômico brasileiro não é, na verdade, uma verdadeira expansão, mas sim o resultado da simples supressão, pelo atual governo federal, dos efeitos dos malabarismos macroeconômicos e fiscais da gestão anterior – que, aliás, culminaram com o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Nada a se desprezar, reconheçamos, mas o crescimento de 1% em 2017 é insuficiente para reverter a queda acumulada de quase 7% entre 2014 e 2016. E não tenho muita esperança de que haja muitos avanços em 2018, exatamente por causa do “tocar o barco com cautela” adotado no ambiente corporativo por causa das incertezas – e surpresas – inerentes à política e à próximas eleições. Infelizmente, política e economia aqui não se desgrudam.
Por causa disso, aliás, já são visíveis alguns sintomas de retrocesso, que vêm desde o final de 2017. O grupo varejista Walmart, por exemplo, decidiu pôr o pé no freio, fechando cinco de suas lojas no início deste ano e demitindo cerca de 300 funcionários. Segundo a própria empresa, o processo ainda não foi concluído. Levantamento feito pela Serasa Experian no final do ano passado mostrou que um terço das cerca de 17 milhões de empresas em atividade no Brasil estão passando por problemas financeiros, com riscos de crédito médio e alto por conta de débitos em atraso. A maior parte é formada por microempresas, com faturamento de até R$ 360 mil anuais, em geral negócios mantidos no mercado por meio de recursos de seus proprietários. Ou seja, uma receita que não dá certo: o dinheiro do dono não pode se misturar com o do negócio.
Não pretendo ser pessimista, mas verifiquei também que o desemprego voltou a subir no país e o número de pessoas em busca de trabalho chegou perto de 14 milhões, numa taxa de desocupação que subiu a 13,1% no trimestre encerrado em março, segundo o IBGE. Nesse período foram eliminadas mais de 1,5 milhão de vagas, com indústria, construção e comércio na liderança das demissões. Apenas entre os postos de trabalho formais foram extintos 408 mil. Ainda segundo o IBGE, nunca, desde 2012, tantas carteiras de trabalho foram para a gaveta: desde o pico dos contratos de trabalho, em junho de 2014, foram perdidas 4 milhões de vagas formais.
Quero continuar otimista, mas está difícil.
*Engenheiro, presidente da Federação de CVB-MG, vice-presidente do Conselho do Instituto Sustentar, e vice-presidente da Federaminas