A política e a religião têm os seus pontos comuns. É fácil confundir uma religião e uma ideologia porque a base dos dois é a mesma. As duas dependem de crença e um conjunto de normas e comportamentos ditados por valores humanos. Nos dois casos estas determinações são originadas de um ser superior aos humanos e que devem ser seguidas prontamente. Algumas ideologias até se ancoram numa religião e o liberalismo, por exemplo, só se explica com apoio em Deus que tudo rege e seria o poder controlador de uma sociedade regulada por normas e determinações legais, mas liberal. Até a guerra tem lá os seus deuses.
Os soldados devotos são mais eficazes e encontram sentido em ações que ele acreditam ser determinadas por seres superiores. Só esta relação para explicar a crença em líderes terrenos e donos de partidos políticos que como Lula, mesmo pressionado pelo poder legal ainda arrastam multidões. Não é o único. Pelo menos quatro partidos estão relacionados com religiões. O PRB foi criado para abrigar uma igreja que entendeu que poderia eleger pelo menos um deputado por unidade da federação. Uma bancada coesa assim, fiel ao chefe e garantida, vale ouro na política dividida. Vingou. Ganhou ministério, cargos e importância que é revertida obrigatoriamente em trocas com o poder.
Depois da “janela da infidelidade”, como chamo o mês para os deputados trocarem de partido sem ameaça de perda de mandato, a nova estrutura partidária mostra o fim da hegemonia partidária. A política se horizontalizou. Acabou o tempo da hegemonia onde um grande partido dava as cartas no Congresso e no governo e os menores seguiam e ficavam com as migalhas que caiam da mesa do banquete. Hoje o PT com 60 deputados é o maior partido e isso não faz a menor diferença. Não fica e nem vai ficar com a presidência da Câmara. É seguido pelo PMDB, que dá as cartas porque se alia a outros partidos e forma um grupo maior. O terceiro é o PP, agora chamado de Progressistas, que pelas bordas abocanhou o poder com ministérios importantes, como Saúde, Agricultura e o cobiçado Cidades, além da presidência da Caixa Econômica Federal. Todos os partidos são agora médios. O próximo presidente terá que frequentar o balcão do Congresso e negociar no varejo com cada grupo. Os partidos já não dominam mais a cena política.
Com a possibilidade de renovação na política com a crescente impopularidade dos políticos, os partidos se fecharam. Não há espaço para os novos e as verbas do fundo partidário serão administradas com cuidado especial. Mas o desfecho é certo, os partidos estão fora da realidade política e fizeram um divórcio certo com os eleitores.
Ninguém acredita mais nas siglas. Viraram sopa de letrinhas. As eleições deste ano terão como grande novidade, a força máxima das mídias sociais. Aí é que mora o pulo das organizações. Os influenciadores mandam mais do que partidos políticos. É o início do fim do mando dos partidos na política. Os políticos perderam o monopólio da política e o ocaso das siglas chegou. A nova realidade massacra as velhas raposas e as suas tocas chamadas partidos. Para amenizar este não é o fenômeno brasileiro. Foi assim com Donald Trump que se elegeu contra o seu partido nos Estados Unidos e Emmanuel Macron, independente dos partidos chegou à presidência da França.