Na hora do almoço ou jantar, o brasileiro não esconde: a comida caseira tem seu lugar. Prova disso é que a culinária tem sido uma forma de muitos driblarem o desemprego, fazendo crescer um mercado em potencial para este ano: o de marmitas. Entregues frescas ou congeladas, o número de vendedores de quentinhas teve um aumento de 134% no período entre 2014 e 2019, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Os dados apontam também que, em 2014, o país possuía cerca de 102,1 mil negócios de marmitas e outras refeições embaladas, enquanto que, no ano passado, esse número saltou para 239,8 mil empreendimentos. Os microempreendedores individuais (MEI) são responsáveis por boa parte do setor. Em 2014, eles correspondiam a 90% do total de empresários do ramo, em 2019, o índice foi para 94%.
Somente no período de novembro de 2019 a janeiro de 2020, o Portal do Empreendedor, do Ministério do Trabalho, registrou quase 3 mil novos MEI especializados no segmento. O analista do Sebrae Minas, Diogo Reis, atribui o crescimento a alguns fatores, como o fato de existir poucas barreiras de entrada para esse mercado. “O investimento inicial é baixo e a facilidade de operação por meio de aplicativos de pedido e entrega incentivam os empreendedores, principalmente, os que têm poucos recursos financeiros”.
Reis acrescenta que o mercado ganha fomento num momento em que o consumidor busca praticidade, sobretudo na alimentação. “As porções destinadas a todas as ocasiões de consumo são uma aposta para atender famílias cada vez menores e o aumento do número de solteiros. Ademais, o apetite dos consumidores por bem-estar é impulsionado pela necessidade de gerenciar os efeitos do estresse de uma vida acelerada e conectada”.
O analista do Sebrae Minas afirma que o segmento tem ampliado o leque de produtos que geram bem-estar e saúde como os orgânicos, integrais, sem lactose, sem glúten, etc. “Além disso, os consumidores tem procurado alimentos com alegações vegetarianas e veganas ou com benefícios funcionais, que entreguem, por exemplo, mais energia, relaxamento ou saúde intestinal”.
Contudo, para entrar no mercado, ele ressalta que não basta apenas cozinhar bem. “Deve-se encontrar um nicho que o diferencie dos demais concorrentes. É preciso atenção às expectativas: o consumidor está mais exigente e à procura de opções que passam por congelados com ingredientes naturais, pratos gourmet, embalagens de produtos que possam ser consumidos no trânsito, comida personalizada de acordo com a dieta e marcas que promovam a conexão com outras pessoas no momento da alimentação”.
O especialista destaca o serviço de delivery como forma de ampliar o negócio. “Ele é uma realidade, principalmente pela ampla utilização de aplicativos de pedido e entrega de alimentos, possibilitando uma ampla divulgação em um curto espaço de tempo. Deve, porém, ser feita uma análise criteriosa do preço de venda e das taxas cobradas por estas plataformas”.
A empresária Renata Almeida entrou no ramo há 6 meses. “Sou advogada, mas já fazia o curso de gastronomia por hobby. Quando perdi o emprego, vi a oportunidade de usar meus conhecimentos em culinária para ganhar dinheiro, já que as pessoas não tem tempo de fazer comida. Ofereço combos de marmitex congeladas para a semana toda, com isso, a pessoa tem suas principais refeições garantidas e de maneira saudável”, conta.
Essa praticidade atraiu a gerente de vendas Marilia Souza que, há cerca de 8 meses, criou o hábito de encomendar marmitas. “Eu e meu marido quase não tínhamos tempo para cozinhar e só comíamos em restaurantes. A ideia de comprar marmitas veio como forma de tentar manter uma alimentação mais caseira. No entanto, o hábito virou uma forma de economia. Não fazemos mais compra e isso nos ajuda a economizar tempo também. Geralmente, mantemos coisas para o café da manhã na dispensa, mas o almoço e a janta, compramos prontos”, conclui.