O final de agosto foi dolorido para a crônica esportiva. Perdemos dois grandes amigos e companheiros. Primeiro foi o narrador Willy Fritz Gonzer. Profissional correto e ético, um ser humano do bem, dono de vasta cultura. Durante décadas emocionou milhares de ouvintes com suas transmissões. Em seguida, o brilhante Luiz Carlos Alves, um comunicador nato, dono da palavra e da escrita, repórter e comentarista competente. Luiz Carlos Alves foi diretor da Associação Mineira de Cronistas Esportivos (AMCE) em vários mandatos, exerceu o cargo de presidente da entidade e atuava como conselheiro, sempre pronto para apoiar ou defender a classe. Dois grandes mestres na arte da comunicação. Dois belos exemplos a serem seguidos. Ficou a saudade e a certeza que o brilho vai continuar na eternamente.
Mas, deixando a tristeza um pouco de lado, peço licença para aproveitar o espaço precioso e relatar algumas rodas de conversas com companheiros, mais velhos ou mais novos, sobre a nossa difícil profissão. O papo sempre gira em torno das complicações que surgiram após a reconstrução dos estádios para receber a copa do mundo de terrível lembrança e lambança.
Os novos estádios, agora arenas, até que ficaram bonitos, mas perderam o principal, ou seja, a praticidade, a liberdade e o charme para o trabalho da imprensa. As cabines foram substituídas por tribunas apertadas. Os estacionamentos privativos diminuíram de forma considerável. As chamadas zonas mistas foram cercadas com grades. Para piorar, as entidades organizadoras dos eventos criaram uma série de normas com o objetivo maior de impedir o livre trabalho da imprensa. O repórter só pode entrevistar alguém na base da correria ou se conformar com as tais coletivas, onde todo mundo ouve a mesma coisa, de um só personagem e pronto. No fundo virou uma espécie de censura, titulada como cerimonial ou protocolo.
Reconhecemos que durante uma Copa do Mundo ou grandes decisões faz se necessário uma organização especial. Mas para a rotina do dia a dia, isso vem prejudicando a difusão da boa informação.
É certo que repórter não deve mesmo entrar no gramado ou vestiário, muito menos ser causador de atrasos, mas daí ser proibido de entrevistar e trabalhar cercado por grades e seguranças, vai uma distância enorme. Isso não é organização, é absoluta falta de respeito.
Esquecem os dirigentes, treinadores e jogadores que a imprensa esportiva cumpre um papel de vital importância. Ela informa, promove, atrai público e fomenta inúmeras possiblidades para que os organizadores, clubes e profissionais arrecadem montanhas de dinheiro.
Da pequena emissora, jornal ou site lá do interior até as grandes redes de comunicação, a fabulosa engrenagem do esporte funciona a pleno vapor por causa da imprensa esportiva. Ela é parte ativa do imenso sucesso do esporte, em especial do futebol. Por essa razão, ela não pode continuar a ser tratada como um problema. Um entrave. A imprensa esportiva merece reconhecimento e respeito por tudo que já fez e vem realizando pelo engrandecimento do esporte.
Que os organizadores repensem seus métodos e protocolos, tomados em gabinetes fechados e abram suas portas para um diálogo útil e saudável para todos. Somente assim será possível oferecer ao público uma informação melhor, mais justa e verdadeira.
Mas, chega de tristeza e reclamação. Quero registrar com alegria que a AMCE e a Rádio Inconfidência firmaram uma parceria muito interessante. Vamos produzir e apresentar um programa semanal de bate-papo com os cronistas esportivos da capital e do interior. Vamos conversar com gente da velha guarda e da nova geração. Um espaço para contar histórias, fatos, curiosidades e sonhos. A emissora vai divulgar dia e horário do programa.
Presidente da Associação Mineira de Cronistas Esportivos (AMCE)