Com suas raízes profundas na história do país, a capoeira é uma das mais emblemáticas manifestações culturais do Brasil e símbolo da resistência e da identidade afro-brasileira, combinando elementos de dança, luta e música. Desde 2014, é reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
A capoeira surgiu entre os escravizados africanos no Brasil, durante o período colonial, como uma forma de resistência contra a opressão. A prática era frequentemente realizada de maneira clandestina, disfarçada como uma dança, para evitar a repressão dos colonizadores. Em 1930, a capoeira foi reconhecida como um patrimônio cultural brasileiro.
O capoeirista Bruno Ferreira diz que, hoje, a capoeira transcende fronteiras e é uma prática reconhecida internacionalmente. “Escolas de capoeira surgem em diversas partes do mundo, promovendo não apenas o aprendizado da técnica, mas também o intercâmbio cultural. Além disso, ela também é vista como uma ferramenta de empoderamento social. Muitos projetos utilizam a prática para oferecer educação e inclusão a jovens em comunidades vulneráveis, estimulando valores como respeito, disciplina e cooperação”.
“A prática melhora a coordenação e o equilíbrio, essenciais para a execução de forma fluida; os movimentos rápidos e dinâmicos ajudam a desenvolver a agilidade e a rapidez de reação; promovem a flexibilidade e a mobilidade articular e exigem força, especialmente nos músculos das pernas, core e braços, contribuindo para um corpo mais tonificado”, acrescenta.
A modalidade é uma importante ferramenta para a preservação da história e das tradições afro- -brasileiras. O capoeirista ressalta que ela carrega em seus movimentos, músicas e danças a memória da resistência e da luta dos ancestrais.
“Ela fortalece a identidade cultural, proporciona um senso de pertencimento e valorização das raízes, favorece o intercâmbio entre diferentes culturas, permite aos praticantes expressar-se artisticamente, fomenta a criatividade e a apreciação por outras formas de arte e ensina valores como respeito, disciplina e solidariedade”, aponta Ferreira.
Isabela Mendes, que pratica o esporte há três anos, conta que a diferença que fez em sua vida foi enorme. “A prática regular ajudou na sensação de bem-estar e reduziu bastante os meus níveis de estresse. Além disso, a atividade em grupo promove interações sociais que fortalecem os laços, contribuindo para a saúde mental. Você também passa a conhecer mais da cultura do seu próprio país e pode aprender as danças e a tocar os instrumentos”, afirma.
Para Ferreira, apesar de seu reconhecimento, a capoeira enfrenta desafios, como a necessidade de preservação de suas tradições. “Muitos mestres e praticantes se esforçam para garantir que a essência da capoeira permaneça intacta, respeitando sua história e suas raízes. Seu legado é um testemunho da resiliência e da criatividade humana”.
No mês passado, foi sancionada a Lei Municipal 11.750/2024, apresentada pela vereadora Cida Falabella (Psol), integrando a capoeira ao currículo das escolas municipais de Belo Horizonte. Essa inclusão ocorre através do programa “Capoeira nas Escolas”, que reconhece a capoeira como uma prática pedagógica e cultural, além de ser um recurso fundamental para o ensino da história e cultura afro-brasileira.