Nos países sul-americanos, assim como em outros locais do planeta, o pobre é elemento fundamental nas eleições e necessário para o exercício do poder dos governos chamados populistas, aqueles cujo líder “carismático” estabelece uma relação direta com as massas, sem necessidade de passar pelas instituições políticas da democracia. Esclarecendo melhor, sem o “pai” dos pobres não há como ganhar as eleições ou exercer o poder. Nossa experiência é longa e traumática, com quase um século de realidade, mas ainda não aprendemos.
Quando em 1930, Getúlio Vargas e sua tropa amarraram seus cavalos nas grades do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, então capital da República, ele como ditador, começamos um ciclo político que não conseguimos superar, até o presente. Claro, teve o período de 1964 a 1985, com os militares, que não foram populistas, nem democratas, mas logo a seguir voltamos “como dantes, ao quartel de Abrantes”.
O forte discurso de nacionalismo econômico, defesa dos mais pobres, assistencialismo, políticas primitivas e elementares de atendimento social, o prato de comida, uma mistura de teorias políticas que não esclarecem, ao contrário, confundem, são pregações feitas pelo iluminado líder diretamente à nação, sem nenhum planejamento de longo prazo ou racionalidade institucional. Não há nenhum compromisso com a sociedade, instituições formais, universidades ou representações coletivas. É o clientelismo levado ao seu mais alto grau de irresponsabilidade com o futuro, uma prática levada a todos os níveis dos governos para a satisfação de quem dele participa. Partidos políticos, neste contexto, são frágeis e sem legítima representação, como atualmente acontece no Brasil. Dezenas de partidos, sem programas ou teses ideológicas, em um “Samba do Crioulo Doido”, como diria Stanislaw Ponte Preta, o Sérgio Porto. E o pobre, onde entra nesta história?
Não é o pobre carente, aquele que vive abaixo da linha da miséria, a quem me refiro. É o pobre de informações, o ignorante do conhecimento, noção de civilidade e responsabilidade com a pátria. É o pobre que foi esquecido neste último século, a quem não foi dada a oportunidade de frequentar escola, conhecer seu país, ler, ter formação mínima para o exercício de uma profissão digna, poder e querer educar os filhos, não depender do pão atirado pelos governosde plantão, que o mantém pobre, porque ele é a razão e a necessidade dos que dele se aproveitam para ganhar eleições.
Nada pior para governos irresponsáveis, populistas, que o eleitorado esclarecido, participante, que discute o futuro do país e das pessoas, dos partidos políticos bem organizados, do Congresso atuante e independente, do Judiciário não politizado e focado nas questões que lhes dizem respeito. Para não ficarmos deprimidos com o que se passa no Brasil, nos consolemos com a Argentina, Venezuela, El Salvador, Peru, Chile, Perons, Chaves, Maduros e Ortegas, nossos vizinhos e outros países que sofrem desta grave doença da estagnação cívica e moral.
Quanto ao futuro, com o andar da carruagem, temos a certeza de que a existência dos pobres estará garantida nas próximas gerações.