Todo mês o cenário é o mesmo: conta de água, energia, aluguel, compras do mercado, fatura do cartão de crédito, sem falar nos gastos extras. São tantas despesas que é preciso ter disciplina e controle financeiro para evitar ficar no vermelho. No entanto, um estudo feito pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), revelou que 48% dos consumidores brasileiros admitem não fazer um gerenciamento efetivo do próprio orçamento.
Desses, 25% confiam apenas na memória para anotar despesas, 20% não fazem nenhum registro dos ganhos e gastos e outros 2% delegam a função para terceiros. A pesquisa também mostrou que mesmo entre aqueles que controlam suas finanças (52%), a frequência com que anotam e analisam suas despesas não é a adequada. A cada 10 pessoas que adotam um método apropriado de controle, somente um terço (33%) planeja o mês com antecedência, registrando a expectativa de receitas e despesas do mês seguinte. A maioria (39%) vai anotando os gastos pessoais conforme ocorrem, enquanto 27% só fazem após o fechamento do mês.
Esse descontrole faz muitas pessoas ficarem no vermelho, como é o caso da psicóloga Jéssica Santos. “Já passei alguns apertos por não anotar e acompanhar meus gastos, ainda que os valores sejam pequenos. Teve uma vez que a fatura do cartão de crédito veio alta demais e precisei pedir dinheiro emprestado para quitar. O problema foi por causa de alimentação fora do lar e serviço de transporte por aplicativo. Custei a retomar a minha vida financeira. Baixei uma ferramenta no meu celular e passei a escrever tudo. O bom é que posso estabelecer um limite e selecionar a categoria das compras. No fim do mês consigo visualizar com o que estou gastando mais”.
Quem também passou por sufoco foi o auxiliar de caixa Victor Leite. “Não tinha o costume de fiscalizar meus gastos. Achei que havia pagado uma conta e depois descobri que não estava paga. Como já tinha usado a quantia para outra coisa, a dívida no mês seguinte ficou alta. Isso sem falar no cartão de crédito. Chegava no fim do mês, não acreditava que tinha gastado aquilo tudo. Meu dinheiro não estava sobrando e decidi organizar as finanças. Montei uma planilha e coloquei todos os ganhos de um lado e as despesas do outro. Todo início de mês defino meu limite de gastos, pago todas as contas obrigatórias e o que sobra uso para lazer”, explica.
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, subestimar o impacto de pequenas despesas no orçamento é uma atitude imprudente. “Os chamados gastos invisíveis são aqueles supérfluos que passam quase despercebidos no dia a dia e podem comprometer as finanças quando somados no fim do mês. Por isso que é perigoso anotar os gastos à medida que vão sendo feitos, porque isso não garante um controle eficiente. O ideal é separar antes de tudo uma quantia para contas fixas mensais e somente com o restante ir alocando conforme a necessidade ou desejo do consumidor, sem esquecer de guardar um valor para uma reserva de emergência”.
Ainda segundo o levantamento, os gastos extras são desprezados entre os consumidores que fazem algum controle do orçamento. 57% dos entrevistados controlam despesas com lazer, transporte, salão de beleza, compras de roupas e alimentação fora de casa. Já os custos essenciais como contas da casa, mantimentos, aluguel e condomínio são anotados por 92% dos consumidores que possuem algum planejamento. As prestações de compras feitas no cartão, cheque ou crediário que vencem no mês seguinte recebem a atenção de 79%. Já 76% anotam os rendimentos, como salários, aposentadorias e pensões.
De acordo com Marcela, pensar nas despesas com antecedência ajuda o consumidor a não ser surpreendido no fim do mês pela falta de recursos. “O consumidor que conhece sua relação de receitas e gastos está menos propenso a se endividar com empréstimos ou a recorrer ao limite do cheque especial para cobrir rombos no orçamento. Além disso, fica mais preparado tanto para traçar planos em longo prazo, como para agir em uma situação de imprevisto, como uma despesa inesperada de alto valor ou a perda do emprego”, explica.
Muitos consumidores ainda têm dificuldade para manter as finanças em ordem. Considerando apenas os que adotam algum método de controle, 61% relatam dificuldades. O caderno de anotação é a ferramenta usada por 36% dos brasileiros. Já a planilha no computador é o método utilizado por 9% dos entrevistados, enquanto 7% registram as receitas e despesas em aplicativos de smartphones. “Se o método for organizado, não importa qual seja a ferramenta. O importante é nunca deixar de analisar as informações anotadas. Algumas pessoas têm facilidade com planilhas ou aplicativos, mas outras ainda preferem um pedaço de papel”, finaliza.