Segundo um levantamento realizado pela fintech meutudo, o reajuste do salário mínimo em 2025 deverá ser utilizado, majoritariamente, para pagar despesas de consumo e dívidas. De acordo com o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), enviado em agosto ao Congresso Nacional, o salário mínimo deve ser de R$ 1.509, R$ 97 a mais dos atuais R$ 1.412. Contudo, a projeção do Ministério da Fazenda indica que esse valor pode alcançar R$ 1.521. O montante definitivo será conhecido após a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de novembro.
Entre os entrevistados, 33% afirmaram que o valor extra será direcionado principalmente para cobrir despesas com alimentação. Em seguida, aparecem contas de água, luz e gás (30%), saúde (15%) e habitação (8%).
Sobre o impacto financeiro do reajuste, as opiniões estão divididas. Para 43% dos entrevistados, o acréscimo terá um impacto pequeno na renda familiar, enquanto 38% acreditam que não haverá mudanças significativas. Apenas 19% consideram que o aumento será relevante para melhorar sua situação financeira. O economista Gelton Pinto Coelho Filho ressalta que, apesar da percepção de baixo impacto entre os brasileiros, a atual fórmula de reajuste do salário mínimo contribui para o pagamento de dívidas e gera reflexos na economia.
“O reajuste eleva o consumo, aumenta a circulação de moeda e, com esse movimento, os empresários tendem a contratar mais. Por outro lado, o endividamento continua consolidado. Houve programas importantes como o ‘Desenrola’, mas ele não solucionou o problema por completo. Muitas pessoas renegociaram suas dívidas, mas ainda estão pagando essas obrigações”.
De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo ideal para sustentar uma família foi estimado em R$ 6.769,87 no mês de outubro. Uma das alternativas apontadas por Filho para reduzir o custo de vida dos brasileiros é a continuidade da política de estoques públicos de alimentos, retomada no ano passado. “Isso é essencial para equilibrar os preços. Percebemos que alguns produtos têm aumentos significativos no percurso entre o Ceasa e o supermercado. É fundamental que as pessoas pesquisem preços e evitem comprar em locais que pratiquem valores abusivos”, pontua o economista.
“A taxa Selic gera um grande endividamento, tanto para o país, no sentido de remuneração da dívida pública, quanto para a população em geral, já que as taxas bancárias levam em conta a Selic. A população que não tem acesso a crédito adequado sente-se ainda mais endividada, pois não encontra opções financeiras que atendam suas necessidades. É necessário melhorar o fluxo de circulação de moeda e ampliar a concorrência bancária, considerando que atualmente cinco bancos controlam mais de 90% das transações no país”, acrescenta.
Filho destaca também que muitas famílias estão se endividando com despesas básicas, como alimentação, serviços e produtos farmacêuticos. “A maioria da população não ganha o suficiente e, por isso, precisa buscar alternativas, geralmente na forma de crédito. Quando alguém está passando fome ou perdeu o emprego, recorre ao cartão de crédito porque essa é a única solução viável no momento para resolver um problema imediato. O ideal seria adotar um planejamento financeiro”.
Ainda segundo o levantamento, metade dos entrevistados pretende usar o valor adicional do reajuste para o pagamento de dívidas. O CEO da meutudo, Márcio Feitoza, observa que o dado reflete a dificuldade de grande parte da população em romper o ciclo de endividamento. “Para enfrentar esses desafios, há uma necessidade urgente de iniciativas que promovam maior entendimento sobre gestão financeira e planejamento, ajudando os brasileiros a tomarem decisões mais conscientes e alinhadas com sua realidade econômica”.
Feitoza também ressalta que os bancos podem desempenhar um papel significativo na educação financeira da população. “Sabemos que capacitar os clientes para compreender melhor os produtos financeiros, calcular custos e avaliar riscos é desafiador, mas esse compromisso é essencial. Criar contéudos educativos e ferramentas que auxiliem na tomada de decisão não é apenas uma questão ética, mas também estratégica: consumidores mais informados tomam decisões mais sustentáveis, fortalecendo o relacionamento de longo prazo entre clientes e instituições”, finaliza.