As mudanças de narrativa e tecnologia no cinema refletem as transformações do mundo. Por muito tempo, as histórias contadas nas telas foram limitadas a linearidade – por exemplo, não havia flahsbacks -, e a famigerada história do herói, que tem um problema e parte numa jornada desafiadora para resolvê-lo, em que tudo acaba num grandioso e feliz final, foi – e ainda é – uma velha receita de narrativa. Entretanto, alguns diretores foram pioneiros ao romper essa perspectiva e o cinema francês esteve na vanguarda desse movimento. Foi pensando em rupturas que o Verão Arte Contemporânea (VAC) selecionou os filmes que integram a mostra “Panorama do Cinema Francês – Anos 50/60”.
Em sua 14ª edição, o VAC 2020 apresentará, de 4 a 6 de fevereiro, obras dos cineastas Henri-Georg es Clouzot, Louis Malle e Jean-Luc Godard, que, de acordo com a curadoria, buscaram a experimentação da linguagem e transgrediram as regras estabelecidas no cinema comercial da época, que precederam ou integraram o Nouvelle Vague. Esse movimento foi criado na França, em 1958, como reação contrária às superproduções hollywoodianas, encomendadas pelos grandes estúdios.
“A proposta é mostrar que todas as rupturas que conhecemos hoje tiveram início com esse cinema dos anos 50. Quando os cineastas começaram a ter outro olhar sobre o que é fazer cinema”, explica Ione de Medeiros, diretora do VAC.
Segundo ela, a seleção de filmes começou com a ideia de dar continuidade a mostra realizada o ano passado com Agnès Varda, cineasta francesa que faleceu em março de 2019 e representava da Nouvelle Vague. “Tivemos um retorno positivo do público, porque Varda representa uma fase importante do cinema. Para este ano, a proposta era fazer uma mostra do Godard que, assim como Varda, também era representante desse movimento. Mas, por diversas questões, inclusive financeiras, tivemos que recuar um pouco e optamos pelos filmes dos anos 50 e 60, Era Pré-Nouvelle Vague”, diz.
A mostra oferecerá a oportunidade de conferir “As Diabólicas” (1955), “O Mistério Picasso (1956), “Ascensor para o Cadafalso” (1958), “Zazie no Metrô” (1960), “O Desprezo (1963) e “O Demônio das Onze Horas” (1965). Ione destaca que os 6 filmes têm em comum a ousadia da ruptura da narrativa hollywoodiana. “Seja no roteiro, abordagem ou temática. São filmes que soam como inovadores e que, de alguma forma, contribuíram para uma transformação no modo de se fazer cinema”, diz.
Para ela, a seleção é uma oportunidade do espectador adquirir referências cinematográficas. “Com a mostra, o espectador terá fundamento sobre a história do cinema. E, assim, ele consegue avaliar o que está sendo feito hoje e conhece como o passado influencia o presente”, conclui.