Se no passado era tido como Vale da Miséria, agora, o Jequitinhonha passa a receber outra denominação: o Vale do Desenvolvimento e da Prosperidade. Isso por conta da descoberta de jazidas com milhões de toneladas de lítio, um mineral nobre extraído em abundância na região e praticamente todo exportado, especialmente para a China.
Os mineiros devem se lembrar das cenas dantescas de Serra Pelada, no Pará, onde a volúpia pela corrida ao ouro provocou uma migração exagerada de pessoas para a localidade. No Vale do Jequitinhonha, em Minas, há expectativa da criação de milhares de empregos diretos e indiretos, com desenvolvimento previsto para várias cidades. No entanto, o poder público já mensura a necessidade de incrementar ações para possibilitar maior atendimento à saúde e segurança. O custo de vida na região aumentou aproximadamente 300%.
Gestores públicos, sobretudo os prefeitos do quadrilátero mineral, projetam os benefícios a serem colhidos. A pequena cidade de Itinga, até então vivendo com verbas do Fundo de Participação dos Municípios e repasses feitos pelo governo federal, viu sua renda aumentar de R$ 41 milhões em 2021 para R$ 70,8 milhões no ano passado. Na vizinha Araçuaí, os cofres estão abarrotados por conta do recebimento de R$ 18,5 milhões, oriundos da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cefem).
As cidades já sentem o impacto dessa mudança espetacular. A rede de saúde, especialmente para atendimento de emergência, sofre com a falta de leitos. É como se os mineiros estivessem assistindo as nossas riquezas se esvaindo do Jequitinhonha para ganhar o mundo, porém, deixando muito pouco como compensação para o Estado. Foi nessa discussão que Minas perdeu nas negociações para reter investimentos mais significativos, quando uma fábrica de baterias de lítio, anunciada pelo Bravo Motores, preferiu migrar para a Bahia. Apesar das circunstâncias, as prefeituras envolvidas no projeto ainda almejam a instalação de um Parque Industrial.
Os administradores de Araçuaí, por exemplo, já iniciaram a discussão com o Governo do Estado, visando a implementação de uma estrutura para abrigar grandes empreendimentos. Se bem que o tesouro mineiro, por conta da dívida bilionária com a União, certamente terá pouco a contribuir com um projeto dessa envergadura. O ideal é conquistar apoio da iniciativa privada, deixando o poder público com a responsabilidade de validar formalmente as propostas.