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Nenhum estado brasileiro alcança meta de cobertura vacinal infantil

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Dados do Anuário VacinaBR apontam que, em 2023, nenhuma vacina infantil do calendário nacional atingiu a meta de cobertura em todos os estados. O cenário mais preocupante envolve os imunizantes contra poliomielite, meningococo C, varicela e Haemophilus influenzae tipo B, nenhum estado alcançou os 95% de cobertura necessários para evitar a circulação dessas doenças.

O relatório, elaborado pelo Instituto Questão de Ciência (IQC) em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e o Unicef, também mostra que apenas 32% dos municípios brasileiros atingiram a meta de cobertura para quatro vacinas prioritárias: pentavalente, poliomielite, pneumo-10 e tríplice viral. Para comentar os resultados, o Edição do Brasil conversou com o diretor-executivo do IQC e organizador do Anuário, Paulo Almeida.

Quais os principais obstáculos locais que dificultam o cumprimento das metas vacinais?
O anuário revela essas desigualdades pela primeira vez em nível municipal. Ainda não é possível apontar causas únicas, pois o Brasil é um país continental, com realidades muito diversas. Nosso objetivo foi lançar luz sobre essas diferenças, para que gestores locais e estaduais possam investigar as causas e propor soluções adequadas à realidade de cada região.

A queda na cobertura vacinal infantil pode ser atribuída a quais fatores?
A redução é resultado de diversos fatores combinados. Desde 2015, as taxas vêm caindo de forma mais intensa. Entre as causas estão a complacência gerada pelo sucesso das vacinas, a ausência de campanhas de conscientização e fenômenos globais como o aumento da hesitação vacinal. O anuário ajuda a localizar essas quedas com precisão, permitindo ações mais eficazes por parte dos gestores públicos.

De que forma a pandemia de COVID-19 e a desinformação afetaram esse cenário?
A crise sanitária teve um impacto mensurável nos índices de coberturas vacinais, tanto no Brasil quanto no mundo. O isolamento social e a perda de confiança em vacinas afetaram diretamente a adesão. Já a desinformação é um fator relevante, mas de difícil mensuração. Nosso foco foi mapear onde e como as coberturas caíram, oferecendo base sólida para diagnóstico e planejamento de políticas públicas.

O anuário aponta altas taxas de abandono vacinal, especialmente nas segundas doses. Como reverter esse quadro?
A queda entre a primeira e a segunda dose da tríplice viral, por exemplo, é muito acentuada. É necessário investir em estratégias para garantir o retorno da população ao posto de saúde. Isso inclui campanhas que mostrem a importância do esquema completo e ações como o envio de lembretes por SMS. Como quem tomou a primeira dose não hesita em se vacinar, é preciso facilitar e lembrar esse retorno. Políticas públicas devem ser planejadas com esse foco, pois a adesão à segunda e à terceira dose ainda é um desafio.

Quais medidas ainda precisam ser tomadas para melhorar a adesão vacinal no Brasil?
O país já foi referência mundial em vacinação e precisa recuperar esse protagonismo. Isso passa por garantir o abastecimento nos postos, realizar campanhas eficientes, investir em educação vacinal e adaptar a comunicação às novas formas de consumo de informação. A vacinação precisa voltar a ser parte da rotina do brasileiro.