Home > Artigo > Sociedade reborn: quando o simulacro substitui a humanidade, só a educação pode nos salvar

Sociedade reborn: quando o simulacro substitui a humanidade, só a educação pode nos salvar

Dias atrás, em uma rede social, circulava o vídeo de uma mulher embalando nos braços o que parecia ser uma criança. A cena, à primeira vista, era terna e familiar. Mas bastava um segundo olhar para que o espanto se instalasse: não era um bebê, era um boneco. Um bebê reborn, uma réplica hiper-realista, vendida com certidão de nascimento, enxoval completo, nome, perfume de recém-nascido e, para alguns, até a ilusão de vínculo afetivo. O investimento não é pequeno, e ainda assim, há quem afirme que vale cada centavo, pois o que se adquire não é exatamente um objeto, mas uma fantasia cuidadosamente produzida: a ideia de afeto sem frustração, maternidade sem renúncia, vida sem risco.

Embora pareça excêntrico à primeira vista, esse fenômeno revela algo mais profundo. Os bebês reborn funcionam como uma metáfora incômoda, mas precisa, do mundo em que vivemos. Trata-se de uma sociedade que tenta escapar da dor a qualquer custo, inclusive da dor que acompanha todo relacionamento genuíno. Uma geração que, em nome do controle absoluto, evita o contato com aquilo que é vivo e falho. E que, por isso, troca o vínculo verdadeiro pelo simulacro confortável.

Estamos nos acostumando a carregar, física e simbolicamente, versões editadas da realidade. Preferimos imagens cuidadosamente filtradas a experiências imprevisíveis. Fugimos do real e abraçamos a réplica. Criamos amizades que não exigem presença, conversas que dispensam escuta, relações que não pedem entrega. Em nome da conveniência, tornamos o outro descartável.

Esse deslocamento da realidade para a fantasia, ainda que disfarçado de progresso, cobra um preço alto. Quando o simulacro se torna norma, perdemos nossa habilidade de sustentar vínculos verdadeiros. E uma sociedade que abandona a coragem de conviver com o que é real acaba, inevitavelmente, por adoecer.

Diante desse cenário, a educação precisa recuperar seu papel essencial. Em um tempo em que o mundo ensina as crianças a performar emoções e a evitar o desconforto das relações autênticas, a escola deve ser o lugar onde se aprende a viver de verdade. É dentro das salas de aula que os estudantes devem encarar o fracasso, aprender a lidar com as diferenças, exercitar o perdão e descobrir o valor da escuta. O papel da escola não é alimentar a fantasia, mas fortalecer a capacidade de enfrentar o real com maturidade e humanidade.

Se a sociedade está normalizando filhos de silicone, amizades com avatares e afetos que cabem em um emoji, então a escola precisa ser o espaço onde ainda se cultiva a presença, o toque, a empatia e a construção de vínculos que exigem tempo, paciência e verdade.

É com esse entendimento que a Rede Batista de Educação desenvolve, há anos, programas como o Batista Família, o Bene e a Capelania Escolar, que fortalecem o seu currículo. Eles não existem para reforçar protocolos, mas para formar seres humanos inteiros. Estudantes capazes de pensar com lucidez, sentir com profundidade e agir com responsabilidade. O conteúdo acadêmico importa, mas é a construção do caráter que define o futuro de uma geração. E essa formação não acontece por acaso; ela depende de estrutura, intencionalidade e uma visão profunda de mundo.

Hoje, mais do que nunca, estamos diante de uma geração cercada por artifícios. E se a escola não for o lugar da verdade, da escuta, do confronto amoroso e da restauração, os bebês reborn continuarão sendo apenas a representação mais visível de um vazio muito mais profundo, que já se instalou em muitos corações.

A missão da educação, portanto, é resistir a esse esvaziamento da realidade. É recuperar, todos os dias, aquilo que nenhuma réplica, por mais sofisticada que seja, será capaz de oferecer: relações reais com pessoas reais. Só assim será possível reconstruir uma sociedade tão profundamente fraturada. E é na escola, sem dúvida, que esse trabalho começa.