A política, em sua essência, vive uma era de profunda metamorfose. Longe de comícios tradicionais, o palco das disputas se expandiu para as intrincadas teias da internet e redes sociais. Essa nova dinâmica comunicacional reconfigura o engajamento cidadão, a organização social e a própria construção da identidade. Não é mera evolução, mas uma reinvenção do jogo político, onde o antes privado se torna público e o local ressoa globalmente.
Historicamente, poder e comunicação moldaram “massas”: aglomerações, produção industrial, mídia centralizada, coesão em torno de líderes ou “grandes narrativas”. Hoje, a “sociedade em rede” opera logicamente descentralizada. O pós-fordismo flexibilizou produção e consumo; a “sociedade de controle” substituiu disciplinas rígidas por modulações fluidas. A internet, com seus rizomas, pulverizou a mídia, permitindo comunicação horizontal e a emergência de “divíduos” que se recombinam. Identificações fragmentam-se em múltiplas lideranças, dispersando a libido política das amarras disciplinares.
Essa nova “ação conectiva” difere dos movimentos tradicionais: busca um “nós” transcendendo particularidades, articulando “semânticas compartilhadas” e mensagens personalizadas. Campanhas ao mapear assédios e compartilhar histórias mostram o privado como motor de mobilização pública, reivindicando o “direito à cidade” micropoliticamente. Coletivos independentes ilustram a “comunicação mestiça”, mesclando jornalismo com amadorismo digital para uma narrativa “por dentro”, desafiando a mídia hegemônica e ressignificando a juventude.
Contudo, a reinvenção traz contradições. Visibilidade digital, embora empoderadora, flerta com espetacularização e “participação vazia”. A “poética do registro amador”, com sua urgência, pode diluir a pauta política em fluxo acelerado de imagens, transformando crítica em “consumo” e ativismo em “entretenimento”. O “realismo capitalista” mercantiliza causas disruptivas, diluindo-as em “boas práticas” publicitárias que, paradoxalmente, reforçam o sistema. A proliferação de câmeras, contravigilância que seja, espelha a lógica de controle onipresente.
Nesse complexo cenário, emoções emergem como lubrificante social. Raiva, indignação, esperança – sentimentos de insatisfação – impulsionam “contágio” e cascatas informacionais. A rápida difusão via redes digitais alcança “massa crítica” antes dependente de estruturas rígidas. O religioso, antes privado, ganha potente visibilidade pública no ambiente digital, influenciando debates e redefinindo fé e política.
A política do século 21 é um campo dinâmico: instantaneidade da conexão, personalização da mensagem e força das emoções se entrelaçam em um tecido social complexo. Compreender “redes e protestos sociais” é fundamental para desvendar as novas formas de “habitar e desabitar” o mundo contemporâneo, onde a comunicação é o epicentro da reinvenção política. Desafios persistem, mas articulação e ressonância seguirão moldando a sociedade.