
O futebol brasileiro vive um momento de amadurecimento em suas estruturas de análise e preparação. Entre os sinais dessa evolução está a presença crescente das consultorias táticas individuais, um modelo de trabalho voltado para o desenvolvimento técnico e cognitivo do atleta fora do ambiente do clube. O serviço, ainda recente no país, vem ganhando corpo e apresentando resultados concretos.
Um dos nomes que atua nessa frente é Ronaldo Sambinelli Filho, analista de desempenho e fundador da RS.Performance, empresa especializada em consultorias táticas semanais para jogadores profissionais e de base. Desde 2021, ele e sua equipe realizam um trabalho minucioso de orientação individual, com foco na leitura de jogo, posicionamento e tomada de decisão.
Filho esclarece que o jogador tem dois, três segundos para decidir o que fazer com a bola. “Nosso papel é ampliar a visão dele sobre as possibilidades naquele momento. Não se trata de apontar erros, mas de construir junto com ele alternativas melhores em cada situação de jogo”.
O acompanhamento é feito por videoconferência e tem como base softwares que fornecem estatísticas, vídeos e recortes específicos das atuações dos atletas e seus adversários. A partir dessa análise, são elaborados materiais que ajudam o jogador a compreender melhor sua performance e os ajustes necessários.
A proposta se diferencia por considerar também aspectos pessoais e contextuais, como o tempo disponível do atleta, a cultura do clube e o momento da carreira, segundo Filho. “Nem sempre o jogador consegue fazer isso em casa, por causa da rotina com a família. Às vezes a reunião só acontece na concentração”.
Essa prática tem sido adotada tanto por jovens em formação quanto por atletas experientes. Um dos exemplos mais emblemáticos do trabalho desenvolvido por Sambinelli foi o do lateral Caio Garcez, revelado pelo Corinthians. Durante a última edição da Copa São Paulo de Futebol Júnior, Caio, originalmente lateral-esquerdo, foi deslocado para atuar como zagueiro pela esquerda, por necessidade do time.
“Trabalhamos com ele durante os sete jogos da Copinha. Foi um processo intenso, mas que deu resultado. Ele se destacou na função e hoje está no elenco profissional do São Bernardo, na Série C, um clube que tem pretensões de subir de divisão para o próximo ano”, afirma Filho.
A consultoria não se limita ao desempenho técnico. O trabalho funciona como apoio à adaptação de atletas que chegam de outras culturas futebolísticas como sul-americanos em clubes brasileiros ou jogadores que saem do Brasil e vão atuar em outros lugares. “Esses jogadores lidam com pressões diferentes. Entender o jogo em um novo contexto é essencial para se manter competitivo”.
Embora ainda restrito a um número seleto de jogadores, o modelo de consultoria tática individual vem se firmando como uma ferramenta complementar ao trabalho realizado pelos clubes. Para Filho, esse tipo de apoio revela também o comprometimento dos próprios atletas. “É um mérito deles. Procurar esse tipo de orientação é sinal de que querem evoluir, mesmo fora da estrutura do clube”, conclui.