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A bola não para

Tudo quase certo no reino do futebol no Brasil. Parece que sim. Rapidamente, o rei Ednaldo foi deposto e o rei Samir assumiu o poder na milionária Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Um rei jovem, com nome pomposo, Samir Xaud. Vem do distante Estado de Rondônia, onde seu pai comanda o futebol desde os anos 1970. Ele representa a federação de futebol da sua terra natal. Até então um ilustre desconhecido da maioria dos jornalistas esportivos e dos torcedores, o moço é médico, especialista em medicina esportiva. É também empresário, dono de centro de treinamentos e saúde na bela Boa Vista. Dizem as boas línguas que é bom de serviço, conhece os bastidores da CBF, transita bem nos corredores do Distrito Federal, tem boa relação com vários políticos e gosta muito de futebol.

Samir Xaud foi eleito em chapa única pela maioria absoluta dos eleitores que representam as federações estaduais e os clubes das séries A e B. O Atlético votou nele, Athletic ficou neutro, América não apoiou e o Cruzeiro não votou, mas marcou presença no pleito. Oposição declarada só de duas federações e alguns clubes. Acredito que em pouco tempo todos estarão navegando no mesmo barco. Sempre foi assim. Boas conversas, alguns ajustes e segue o jogo.

O lema da nova gestão é: “Futebol para Todos – Transparência, Inclusão e Modernização”. Muito bom, e se realmente for colocado em prática, estamos salvos.

A nova turma que assume a CBF ao lado do presidente Samir é composta pelos seguintes desportistas. Vices: Ednailson Leite (Amazonas), Fernando Sarney (ex-dirigente), Flávio Zveiter (ex-presidente do STJD), Gustavo Henrique (diretor da CBF), José Vanildo da Silva (RG Norte), Michelle Ramalho (Paraíba), Ricardo Augusto Paul (Pará) e Rubens Angelotti (Santa Catarina).

Conselheiros: Simon Riemann Costa e Silva, Eduardo Rigotto Netto e Frederico Ferreira Pedrosa. Suplentes: Francinaldo Kennedy Lima Barbosa, Manoel Rodrigues Neto e Rodrigo Ferreira La Rosa. Samir Xaud já anunciou alguns projetos importantes para sua gestão que vai até 2029. A atualização do estatuto da entidade é mais do que necessária, porque o texto é confuso, remendado e cheio de casuísmos. Dá margem para várias interpretações, principalmente jurídicas.

Profissionalização dos árbitros. Um tema complexo, sempre falado, nunca resolvido. O nível do trabalho dos árbitros e seus auxiliares piora a cada temporada, incluindo o pessoal do VAR. É muita gente batendo cabeça, atrapalhando e atrasando o jogo, cometendo erros primários. Mais do que simplesmente profissionalizar, será preciso qualificar o pessoal em todos os aspectos. Tem muita gente na arbitragem só porque o cachê é muito bom.

A criação de uma liga para organizar as principais competições já existe algo parecido em funcionamento, mesmo que de forma informal. O ideal é ter uma liga para cada série do Brasileirão, administrada por profissionais independentes e bem qualificados. Gente especializada em racionalizar e organizar o calendário, as tabelas e demais necessidades do futebol, com capacidade para respeitar o torcedor como cliente VIP. Apenas vender cotas de patrocínios e promover ações de marketing em nada vai ajudar. Pode até causar a morte da galinha dos ovos de ouro.

Um projeto que provoca arrepios é o desejo de estabelecer o fair play financeiro entre os clubes. Mais do que necessário. A desigualdade econômica é um assombro e os clubes estão cada vez mais endividados ou falidos. O faturamento não cobre os custos, mesmo assim, dirigentes continuam gastando os tubos com contratações malucas e salários astronômicos. Tudo absolutamente fora da realidade. Uma aberração.

Outro problema é colocar a seleção nos trilhos. A nova gestão já ganhou um bom presente. O treinador Ancelotti já assumiu e convocou os craques. Que tenha muita sorte, pois competência ele tem até de sobra. Vamos torcer para que tudo funcione bem. Mesmo porque, tanto dentro quanto fora dos gramados, o mundo gira e a bola não para.