
Estrelado por Vera Holtz e escrito e encenado por Rodrigo Portella, a peça “Ficções” volta a Belo Horizonte, no Sesc Palladium, de 20 a 22 de junho, sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 18h, com ingressos entre R$ 21 e R$ 180 pelo Sympla. Aclamado por público e crítica, com 22 indicações e vencedor de prêmios, o espetáculo percorreu 43 cidades e atingiu mais de 130 mil espectadores em dois anos e meio.
Idealizado pelo produtor Felipe Heráclito Lima, “Ficções” teve como ponto de partida o livro Sapiens – uma breve história da humanidade, do professor e filósofo Yuval Noah Harari, que vendeu mais de 23 milhões de cópias em todo o mundo. O espetáculo conduz o público por uma bem-humorada viagem sobre a trajetória do Homo Sapiens.
Vera Holtz se desdobra em personagens da obra literária e em outras criadas por Rodrigo, canta, improvisa, “conversa” com Harari, brinca, instiga a plateia e interage com o multi-instrumentista italiano Federico Puppi – autor e performer da trilha sonora original, com quem divide o palco. Juntos, eles envolvem o público em uma profunda reflexão sobre as ficções que moldam a realidade e a evolução da espécie humana.
“Quando o Rodrigo, um jovem diretor, talentoso e vocacionado, chegou com essa proposta da performatividade, foi uma delícia. Como se eu falasse, agora é hora de você usar a sua liberdade técnica, porque toda essa convivência, o excesso de trabalho gera uma técnica. Não é um método, mas você tem uma técnica para você abordar os personagens e as cenas que lhes são propostas”, pontua Vera.
“Já tinha lido o livro e também tinha uma vivência com a obra e essa questão das narrativas. Quando o texto veio, acredito em tudo que falo e dou aval a tudo aquilo que o Rodrigo escreveu. Algumas pessoas, às vezes, até acreditam que fui eu que escrevi o texto. Acho o recorte dele muito interessante, e a minha grande dúvida era que recorte do livro ele ia fazer. Acredito nessa capacidade que o homem tem de criar e crer, e de crer coletivamente. E que tudo se cria. E se você cria, você pode descriar”, acrescenta.
O dramaturgo e diretor, Rodrigo Portella, explica que foi a Alessandra Reis, diretora de produção, que o convidou para escrever e dirigir a peça. “Já tinha escutado falar, mas não tinha lido a obra ainda. No que comecei a ler já entendi que aquilo dava teatro. Aliás, acho que qualquer coisa pode dar uma boa peça de teatro, porém, aquele livro já tinha muitos pontos ali colocados. Temas que acredito muito interessantes a serem discutidos na atualidade”.
“O recorte da ficção que escolhi no processo de adaptação do livro, passa a ideia de que a vida humana, quase tudo o que a gente construiu, desde os nossos primeiros pactos civilizatórios até toda a estrutura tecnológica, a ideia de cidade, religião, economia, tudo, está ligado ao princípio da ficção, da crença em alguma coisa que não existe de fato, mas que a gente convenciona coletivamente. O principal desafio, na verdade, quando ela me convidou para fazer o meu entendimento, é porque o livro do Harari não é uma obra de ficção, é um estudo científico e histórico. Contudo, fiquei muito desafiado pela possibilidade de construir ficção em cima daquilo que não é ficção, que é um pouco o que o livro fala”, afirma.
Trilha sonora
O compositor da trilha sonora e performática da peça, Federico Puppi, ressalta que a trilha tem um papel muito importante na construção do espetáculo, como complemento dramatúrgico. “Tem a parte que toco no palco, e tem a da ambientação, da paisagem sonora. Todo o áudio da peça é em surround, propõe uma experiência imersiva para a plateia. A gente tem caixas espalhadas pelo teatro e o público está literalmente dentro do som do espetáculo, que é algo muito utilizado no cinema”.
Para Puppi, o maior desafio foi criar uma dramaturgia musical que pudesse complementar a dramaturgia literária. “Porque é um texto muito denso, são muitas informações que são repassadas para a plateia, e a gente precisava de momentos que a música reforçasse as temáticas tratadas, mas também criasse um período de suspensão, que pudesse criar uma bolha para que o pensamento pudesse fluir e também ter aberturas para poder puxar novos assuntos”, finaliza.