
Um balanço sobre a criminalidade divulgado pelo Governo do Estado mostrou que em exatos 90 dias de 2025, 68 pessoas foram assassinadas em Belo Horizonte (média de uma morte a cada 32 horas). Apesar de chocantes, as estatísticas indicam redução da violência, na capital, houve queda de 10,53%: no primeiro trimestre de 2024 as vítimas de homicídio foram 76. Os dados da criminalidade mostraram uma queda nos crimes violentos em BH, havendo uma redução de 1,65%, com os registros caindo de 1.938 para 1.906.
Entre os crimes que mais contribuíram para a redução na capital, a maior queda absoluta foi em casos de roubo consumado, esse índice caiu 1,77%, dos 1.468 casos no ano passado para 1.442 de janeiro a março de 2025. Os registros de estupro tentado apresentaram queda de 36,36%, passando de 11 para 7 ocorrências. As tentativas de homicídio também diminuíram, com redução de 11,54%, de 78 para 69 casos. No que se refere à tentativa de estupro de vulnerável, a queda foi ainda mais expressiva: 75%, reduzindo de quatro para apenas um caso.
Para a socióloga Andreia Lima, o número de homicídios reflete um problema estrutural que vai além do policiamento ostensivo. “A violência em BH está diretamente ligada à desigualdade social, à presença do tráfico de drogas e à ausência de políticas públicas eficazes em áreas vulneráveis. Apenas reforçar o policiamento não resolve o problema de forma duradoura”.
Outro ponto é a disputa por territórios entre facções criminosas, que se intensificou nos últimos anos. Parte dos homicídios registrados podem estar ligados a acertos de contas e rivalidades entre grupos armados que atuam na periferia da capital. “A guerra do tráfico tem alimentado um espiral de violência que desafia o Estado. Esses grupos se estruturaram ao longo do tempo, com poder de fogo e influência local. Romper esse ciclo exige inteligência policial, articulação entre as forças de segurança e atuação integrada com políticas sociais”, ressalta.
O combate à violência em Belo Horizonte requer mais do que ações emergenciais. “Os principais desafios incluem o déficit de efetivo nas polícias, a fragilidade na investigação de homicídios, o aparelhamento das facções em bairros vulneráveis e a falta de investimentos em prevenção social. O gargalo na elucidação dos crimes gera um efeito de impunidade. Quando o autor do crime não é identificado, a confiança da população nas instituições diminui e o ciclo da violência tende a se repetir”, afirma o especialista em segurança pública, Marcelo Cunha.
Ele afirma ainda que “a falta de políticas públicas voltadas para a juventude é um fator que contribui para a entrada de adolescentes e jovens adultos no crime organizado. Sem acesso a emprego, educação e lazer, muitos acabam recrutados por facções que dominam territórios e impõem regras à margem da lei”.
Andreia explica que é necessário retomar o controle territorial com a presença do Estado em todas as suas formas: escola, assistência social, saúde, cultura e geração de renda. Só assim a violência será enfrentada na raiz. “Programas de educação e capacitação profissional voltados à juventude, especialmente em áreas de vulnerabilidade social, esporte, cultura e lazer como estratégias de inclusão e ocupação do tempo livre de adolescentes e jovens e apoio a famílias em situação de risco, com assistência social mais presente nos bairros com altos índices de violência”.
Cunha menciona melhor iluminação, revitalização de espaços urbanos e ocupação de áreas abandonadas como fatores que reduzem a criminalidade em regiões degradadas. “Habitação e mobilidade urbana de qualidade também ajudam a reduzir tensões sociais e incentivar políticas de alternativas penais e ressocialização, para que o sistema prisional não seja apenas punitivo, mas preventivo”.