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Interesse feminino por esportes vem apresentando crescimento

Foto: Freepik.com

O relatório “Women and Sports”, produzido pelo Ibope Repucom, mostrou que as mulheres têm se interessado cada vez mais pelo esporte, tanto em consumir quanto em praticar. Os números revelaram que o interesse do público brasileiro pelas 30 modalidades esportivas mais populares teve um crescimento médio de 15% desde 2020. Esse avanço foi ainda mais expressivo entre as mulheres, com um aumento de 20% no engajamento com esportes, mais que o dobro do crescimento observado entre os homens, que foi de 9%.

Dentre os 15 esportes mais populares no Brasil, certas modalidades chamaram atenção pelo aumento significativo do interesse feminino nos últimos anos. O skate, impulsionado pelo destaque de Rayssa Leal, lidera esse movimento, registrando um crescimento de 48% no número de mulheres que se identificam como fãs desde 2020.

Na sequência aparecem o tênis (33%), o futebol de areia (31%), o futsal (27%) e o atletismo (22%). Apesar dessas modalidades ainda contarem com menor presença feminina em comparação ao público masculino, o aumento do interesse entre as mulheres foi mais acelerado do que entre os homens em todos esses esportes. A pesquisa também revela quais esportes mais atraem a atenção do público feminino. O vôlei ocupa o primeiro lugar, com 70% de preferência, seguido por ginástica artística (69%), natação (65%), vôlei de praia (61%) e futebol (60%). Em quatro dessas cinco modalidades, as mulheres demonstram maior interesse do que os homens, com o futebol sendo a única exceção.

Para a professora de educação física, Rebeca Oliveira, esses números são resultado de uma luta antiga por visibilidade e reconhecimento. “Durante anos, o esporte feminino foi negligenciado, sem patrocínio, sem cobertura de mídia, com pouca estrutura. Hoje, ver mulheres ocupando espaços como atletas, treinadoras, jornalistas e torcedoras apaixonadas é uma vitória coletiva”.

Rebeca explica que, apesar do avanço, ainda sente que há pouco incentivo institucional para a prática esportiva entre o público feminino. “A ausência de políticas públicas consistentes, a desigualdade salarial e a escassez de investimento em categorias femininas continuam sendo barreiras importantes. A gente enfrenta a falta de apoio desde a base e muitas meninas desistem do esporte por falta de estrutura, de equipamentos, de espaços seguros para treinar. Sem falar nos preconceitos que ainda enfrentamos em modalidades consideradas ‘masculinas’. O incentivo ainda é muito desigual”.

Pouco do investimento em esportes no Brasil é destinado a equipes ou atletas femininas. Para muitas, isso significa conciliar treinos de alto rendimento com outros trabalhos para sobreviver. Rebeca afirma que é muito comum ver atletas mulheres dividindo seu tempo entre o esporte e outras profissões para se manterem financeiramente. “Isso impacta diretamente no rendimento e nas chances de competir em alto nível. A situação é difícil para todos os atletas do país, porque, no geral, não há muitos investimentos, mas, desde sempre, os homens têm uma estrutura mais consolidada”.

A educadora física, Ana Paula Neto, salienta que a presença crescente de mulheres nas arquibancadas, nos campos, nas quadras e nas transmissões também vem mudando a cultura esportiva do país. “Quando uma menina liga a TV e vê mulheres narrando, comentando ou jogando em alto nível, ela entende que esse espaço também pode ser dela. A representatividade inspira, rompe barreiras invisíveis e mostra que o esporte é para todas”.

“Aumento da cobertura da mídia para modalidades femininas, investimentos em infraestrutura esportiva em escolas e bairros periféricos, criação de políticas públicas específicas para o esporte feminino e campanhas educativas para combater o preconceito de gênero no esporte, são algumas ações que podem ser feitas”, ressalta Ana Paula.

Ela concorda que a transformação está em curso, mas exige continuidade e compromisso. “Estamos no caminho certo, mas ainda temos um longo percurso, o esporte transforma vidas. E quando mais mulheres tiverem acesso a ele, mais justo, diverso e potente será o nosso futuro”.