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Os tombos da vida

Quem nunca caiu? É inevitável cair ao tropeçar em um obstáculo qualquer, escorregar em uma casca de banana ou chão molhado, sentir um inconveniente empurrão em meio da turba, na escada rolante ou em uma prosaica distração que nos leva, sem querer, a uma queda. Às vezes com sérias consequências, especialmente nos idosos. Fraturas são comuns e com graves consequências à vítima destas circunstâncias. Assim me aconteceu recentemente, felizmente sem tão graves decorrências. Apenas quatro dentes da frente quebrados ao cair de boca no chão. A solidariedade humana foi colocada à prova e demonstrada de imediato. Fui bem socorrido por caminhantes, que como eu, naquela manhã fazíamos nossos exercícios matinais sem contar com as armadilhas das calçadas da cidade.

Normalmente, caminho na rua, no asfalto, onde tem menos buracos e o piso é uniforme, porém, ao mudar de quarteirão tive que andar, com passadas rápidas, no passeio da Rua Milton Amado, no Bairro São Bento. Milton Amado, jornalista, tradutor de Pasternak, um gênio do jornalismo mineiro, militante da esquerda, meu amigo que conheci velho, no antigo e bom “Diário de Minas”, morou alguns anos na Rússia por identidade ideológica e prazeres de intelectual. Um desnível no cimento, um degrau traiçoeiro, levou- -me a “catar cavacos” por mais de cinco metros e finalmente, inevitavelmente, cair de boca no chão com sangue a jorrar pela boca e nariz. O socorro, imediato, de desconhecidos, foram providenciais e fui levado ao hospital onde recebi os pontos necessários na boca, cirurgia plástica no lábio e agradecido por não ter tido consequências piores. A partir de então passei a olhar melhor as calçadas de nossa cidade, em um exercício de penitência e precaução ante a estes inevitáveis acidentes.

Tenho ficado horrorizado com o estado de nossas calçadas, praças, passeios públicos e lugares de lazer e entretenimento dos cidadãos. Sei que o dever da boa conservação das calçadas é dos donos dos imóveis, mas o relaxamento da Prefeitura de BH na fiscalização do estado destes lugares públicos é preocupante. Não se tem notícia de sua atuação, fiscais atuantes e política pública deste cuidado fundamental com os transeuntes. Temos um novo prefeito, de quem temos as melhores expectativas e daqui coloco mais este novo velho problema para sua gestão. Sei dos outros graves como transporte coletivo, trânsito, miséria nas ruas, pichações, lixo por todo lado, saúde carente, ensino deficiente, mas, acrescento, prefeito, mande olhar nossas calçadas. Ponha os fiscais nas ruas. Os atendimentos dos prontos-socorros podem dar uma boa estatística da quantidade de vítimas que sofrem com esta lamentável realidade.