
De acordo com dados do Censo da Reciclagem do PET no Brasil, 410 mil toneladas de embalagens PET pós-consumo foram recicladas no país em 2024. Isso representa um aumento de 14% em relação a 2022, quando 359 mil toneladas foram reaproveitadas. Do total da resina reciclada, 37% foram destinadas à fabricação de novas embalagens (preformas e garrafas), seguidos pelo setor têxtil (24%), indústria química (13%), lâminas e chapas (13%), fitas de arquear (10%) e outras aplicações (3%).
A indústria da reciclagem de garrafas registrou, no período, um faturamento de aproximadamente R$ 5,66 bilhões. A maior parte dos rendimentos fica com catadores, cooperativas e sucateiros. Para entender melhor o setor, o Edição do Brasil conversou com o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do PET (ABIPET), Auri Marçon.
O que contribuiu para o avanço de 14% em dois anos?
O crescimento neste período reforça uma trajetória de sucesso impulsionada por três fatores. Primeiro, o esforço de quase três décadas da indústria do PET para criar demanda pela resina reciclada, garantindo sua viabilidade econômica. Em segundo lugar, os investimentos em tecnologia e infraestrutura por parte dos recicladores, tornando o Brasil referência mundial na reciclagem de PET. Por fim, os avanços tecnológicos recentes permitiram que o material reciclado atingisse a mesma qualidade do PET virgem, viabilizando o processo bottle to bottle e fortalecendo a circularidade do PET.
Como esse aumento da reciclagem tem impactado socialmente e economicamente esses trabalhadores?
O PET é o material com melhor valor de mercado, depois do alumínio. No entanto, o alumínio praticamente não é mais encontrado descartado para coleta e reciclagem, devido ao alto índice de reaproveitamento. Por esse motivo, em termos de volume de receita, o PET é o material que melhor remunera os catadores. Há uma forte demanda pelas embalagens e podemos dizer que ele contribui significativamente para o resgate da cidadania e para a renda desses profissionais, que estão na base da cadeia produtiva.
Quais medidas podem ser adotadas para melhorar a coleta seletiva e garantir um maior aproveitamento das embalagens descartadas?
Chegamos a um ponto em que um aumento no volume reciclado dependerá de mudanças estruturais, previstas na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), mas ainda não implantadas. A PNRS estabelece que a gestão dos resíduos sólidos é uma responsabilidade compartilhada, envolvendo cidadãos, poder público e indústria. É fundamental que o consumidor tenha consciência ambiental e faça o descarte adequado das embalagens, separando-as do lixo orgânico. Cabe ao poder público implantar sistemas robustos de coleta seletiva, que permitam o resgate dos materiais descartados para que cheguem à indústria e sejam reciclados. No entanto, poucos municípios investiram na coleta seletiva. Como consequência, um volume imenso de embalagens descartadas pelos consumidores continua sendo encaminhado para aterros sanitários ou descartado incorretamente no meio ambiente.
Há potencial para um incremento no faturamento nos próximos anos?
Sim, existe um potencial significativo, uma vez que há uma demanda reprimida por PET reciclado que não está sendo atendida devido à baixa oferta. Apesar do trabalho realizado pelos catadores, a ampliação da reciclagem e do faturamento do setor só será possível quando o Brasil contar com sistemas públicos de coleta seletiva, cuja responsabilidade é das prefeituras.
O que pode ser feito para que essa porcentagem aumente nos próximos anos?
O setor privado tem cumprido seu papel. Para avançarmos, precisamos continuar contando com a conscientização da população, garantindo o descarte correto das embalagens após o consumo. E, principalmente, é essencial que as prefeituras cumpram seu dever e invistam na coleta seletiva, conforme determina a PNRS. Esse é o principal gargalo que impede o crescimento da indústria de reciclagem no Brasil.