
A popularização do gramado sintético em estádios de futebol tem gerado debates intensos sobre a sua segurança e impacto na saúde dos jogadores. Embora a superfície artificial seja adotada por ser mais resistente e de menor custo de manutenção, ainda possui certa rejeição por uma parte dos atletas. O Campeonato Brasileiro de 2025 contará com três estádios que utilizarão grama sintética. Nesta temporada, o Allianz Parque (São Paulo) e o Nilton Santos (Rio de Janeiro) seguem como os estádios da edição anterior. A principal novidade é a Arena MRV, em Belo Horizonte, que optou por substituir o tipo de gramado no final de 2024 e deve inaugurar o novo campo na Série A.
Além dos três estádios já confirmados, o Pacaembu foi reformado e conta com grama sintética. Antes era administrado pela prefeitura e agora pertence à iniciativa privada. Firmou um contrato de 10 anos com o Santos para sediar jogos.
Há também outro modelo de gramado. A Neo Química Arena, casa do Corinthians, e o Maracanã, principal estádio do Rio de Janeiro, utilizam gramados híbridos. Esse tipo de campo combina fibras sintéticas com a grama natural.
Em fevereiro, um grupo de jogadores compartilhou nas redes sociais uma mensagem padrão contra o uso de grama sintética. Entre os principais nomes do futebol brasileiro que aderiram à campanha estavam Neymar, Gerson, Gabigol, Dudu, Philippe Coutinho, Lucas Moura, Thiago Silva, Pablo Vegetti, Alan Patrick, entre outros atletas. Além do atacante do Cruzeiro, Dudu, que, em entrevista coletiva no mês passado, atribuiu o gramado sintético do Allianz Parque como um dos principais fatores para a séria lesão no joelho direito que sofreu em agosto de 2023.
Uma das pesquisas sobre o assunto foi divulgada na revista The Lancet em 2023. Os pesquisadores analisaram 1.447 estudos, selecionando 22 que atendiam aos critérios estabelecidos. A sondagem concluiu que a taxa geral de lesões no futebol é inferior nos campos com grama sintética em comparação com os de grama natural. Segundo os dados, o risco de lesão não pode ser utilizado como um argumento contra o uso do gramado sintético.
Para o fisioterapeuta Renato Lacerda, embora as lesões possam ocorrer tanto em gramados naturais quanto sintéticos, é importante avaliar o contexto de cada jogo. “A Fifa autoriza três tipos de grama para o futebol: natural, relva natural com reforço híbrido e relva sintética/ artificial. Os campos sintéticos com boa instalação e materiais mais modernos têm apresentado desempenho semelhante ao do gramado natural em termos de segurança para os jogadores. O problema surge quando o campo sintético está deteriorado ou mal projetado”.
Na avaliação de Lacerda, os jogadores precisariam adaptar seus treinamentos ao tipo de piso no qual irão disputar a partida oficial. “O desafio é que nem todos os times ou estádios contam com centros de treinamento equipados com grama sintética. Eles treinam na grama natural e, ao chegarem para a competição, se deparam com uma superfície diferente. É preciso encontrar uma solução que seja viável tanto para os atletas quanto para os estádios”, afirmou.
A engenheira agrônoma, Priscila Moraes, salienta que os campos sintéticos modernos utilizam materiais mais flexíveis e camadas de amortecimento para reduzir o impacto. “A tecnologia tem evoluído, e hoje temos opções no mercado que conseguem equilibrar custo-benefício e segurança para os jogadores”.
“A principal vantagem do gramado sintético é sua durabilidade. Em regiões onde o clima é adverso, como em locais de baixas temperaturas ou onde as chuvas são intensas, o campo sintético oferece uma solução prática, permitindo que os jogos aconteçam sem interrupções. Além disso, os custos de manutenção de um gramado sintético são consideravelmente mais baixos do que os de um campo natural, que exige cuidados constantes, como irrigação, corte e fertilização”, conclui.