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75% dos rios da Mata Atlântica apresentam qualidade regular

Foram realizadas 1.160 análises em 145 pontos de coleta / Foto: SOS Mata Atlântica

Análises feitas entre janeiro e dezembro de 2024 indicam uma estagnação na qualidade da água dos rios da Mata Atlântica monitorados, conforme aponta o relatório “O Retrato da Qualidade da Água nas Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica”, produzido pelo programa Observando os Rios, da SOS Mata Atlântica. O trabalho foi realizado por voluntários em 145 pontos de coleta, em 67 municípios de 14 estados, e mostram que apenas 7,6% dos pontos (11) apresentaram qualidade boa, enquanto 13,8% (20) foram classificados como ruins e 3,4% (5) péssima. A predominância foi da qualidade regular, em 75,2% dos pontos (109) e nenhuma amostra apresentou classificação ótima.

A comparação com os dados do ano anterior revela um cenário ainda mais desafiador. Entre os 127 pontos monitorados nos dois anos consecutivos, houve um aumento no número de rios com qualidade ruim e a permanência de quatro pontos com qualidade péssima. Novamente, nenhum ponto analisado atingiu a classificação de qualidade ótima.

Para Gustavo Veronesi, coordenador da causa Água Limpa da SOS Mata Atlântica, os resultados evidenciam que os esforços para melhorar a qualidade da água não têm sido suficientes. “O monitoramento deste ano deixa claro que a situação é grave. A estagnação dos índices de qualidade da água e o aumento de pontos classificados como ruins mostram que não há avanço real. Precisamos de ações mais eficazes e de investimentos urgentes em saneamento, porque enquanto não resolvermos isso, nossos rios continuam ameaçados”.

O geólogo da Keystone, Guilherme dos Anjos, destaca que esses dados são preocupantes, porque mostram que a maioria dos rios da Mata Atlântica estão em condições alarmantes. “Provavelmente, isso é um reflexo da degradação ambiental provocada pela poluição, pelo desmatamento das matas ciliares e pela falta de saneamento, o que afeta tanto a biodiversidade quanto a saúde das pessoas”.

“Os rios da Mata Atlântica desempenham um papel vital para a sociedade. Eles fornecem água potável para milhões de pessoas, sustentam a agricultura e a indústria e são essenciais para a preservação da biodiversidade. Além disso, ajudam a prevenir desastres naturais, como enchentes e secas. Se a qualidade continuar a piorar, as consequências serão graves. Podemos enfrentar escassez de água, racionamento, impactos econômicos na agricultura, perda de biodiversidade e o agravamento de eventos climáticos extremos, como ondas de calor e secas prolongadas”, pontua o profissional.

Ele ressalta que para restaurar a qualidade da água é preciso investir na ampliação do saneamento básico. “E também na recuperação das matas ciliares e em uma fiscalização ambiental mais rigorosa. Além disso, é essencial promover campanhas de conscientização para que a população entenda a importância de preservar nossos rios”.

Saneamento básico

O estudo reforça que o principal entrave para a recuperação da qualidade da água ainda é o saneamento básico insuficiente. Apesar das promessas de universalização do serviço até 2033, cerca de 35 milhões de brasileiros seguem sem acesso à água potável e metade da população do país não tem seu esgoto tratado. A poluição ainda é despejada sem controle em muitos cursos d’água, agravando um quadro que já é crítico.

Para o presidente do Instituto Redemar Brasil, William Freitas, o saneamento básico é um direito universal garantido. “No entanto, na prática, sua cobertura ainda é insuficiente, tornando essencial o aumento dos investimentos para expandi-la. A desestatização do serviço de água não é recebida com entusiasmo, pois pode agravar a desigualdade social em um país já marcado por profundas injustiças. Essa não é uma equação simples e exige o desenvolvimento de tecnologias sociais eficazes”.

“O Marco do Saneamento Básico foi aprovado nacionalmente, mas é fundamental que suas diretrizes sejam aplicadas de forma eficaz nos municípios, onde a vida de fato acontece. Precisamos garantir a integração dessas leis considerando as nuances e complexidades de um país culturalmente diverso e de dimensões continentais. Além disso, as soluções devem ser socialmente justas e economicamente viáveis, o que representa um grande desafio”, finaliza Freitas.