
Entre brasileiros adultos, com mais de 25 anos, 18,4% concluíram o ensino superior, segundo revela o Censo Demográfico de 2022, divulgado em fevereiro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre os jovens de 18 a 24 anos, 56,4% estavam matriculados em algum curso de ensino superior no ano da pesquisa.
O estudo mostrou avanços em relação aos censos anteriores. Em 2000, apenas 6,8% dos adultos (com 25 anos ou mais) tinham ensino superior. Em 2010, eram 11,3%. Apesar disso, quatro em cada cinco brasileiros ainda não têm curso de graduação. O professor universitário e mestre em direito, Hellom Lopes Araújo, conversou com o Edição do Brasil sobre o assunto.
O que explica o crescimento no índice de brasileiros adultos com curso superior completo no país?
Um dos primeiros fatores que aconteceu foi a expansão das universidades, o que proporcionou um acesso maior da população em geral, não só a adulta. Também tem a questão do programa de financiamento, como o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) e o Programa Universidade para Todos (Prouni). Além da valorização da educação no mercado de trabalho; o crescimento do ensino à distância no país, que na última década ganhou um aquecimento muito grande, principalmente no período pós-pandemia; políticas públicas, como as cotas; e o aumento da renda que também possibilitou o acesso ao ensino superior.
Quais são os principais obstáculos ainda enfrentados por aqueles que buscam concluir esse ensino?
Nós sabemos que quando há um aumento de renda da população, isso não é linear, ou seja, não são todos os níveis sociais que tiveram esse crescimento, que impacta no ingresso ao ensino superior, principalmente na esfera privada, porque as mensalidades são caras. Além disso, tem a questão familiar, cultural e de infraestrutura que impossibilita esse livre acesso da população aos centros universitários.
O Censo também mostrou que os brancos ainda têm mais acesso que os negros, porém, o ingresso dos negros nas universidades cresceu cerca de cinco vezes. O que justifica esse aumento?
As próprias políticas públicas, como a expansão das universidades; interiorização do ensino, por conta do ensino à distância; e também pela criação de cotas nas universidades públicas e privadas, que possibilitaram o ingresso de uma população que nunca teve acesso ao sistema, por toda a nossa história como país. Essas ações públicas, que foram criadas nos últimos 20 anos, nos proporcionaram uma correção na rota da nossa sociedade, trouxe um equilíbrio na oportunização do ingresso ao ensino, que traduz em uma maior elevação em termos de percentual da população negra ao centro universitário.
A tendência é de crescimento do índice para os próximos anos?
A tendência é de avanço, mas será um crescimento não muito significativo e com alguns desafios, como melhorar a qualidade do ensino superior, facilitar o acesso da população que necessita, e conversar com o mercado de trabalho, para que possa produzir resultados financeiros, ou seja, para que a pessoa melhore de vida com a graduação.
Como a ampliação do acesso a esse ensino tem impactado a formação de uma força de trabalho mais qualificada?
A ampliação do acesso ao ensino proporciona muitas coisas, principalmente uma especialização maior da mão de obra e aumento na produtividade. O ensino tem que ser de qualidade para que o mercado de trabalho seja impulsionado por profissionais de qualidade, assim, as empresas se fortalecem para receber esse colaborador fortalecido.
Com o crescimento do número de graduados, o mercado de trabalho tem se adaptado para oferecer oportunidades condizentes com a formação superior?
É perceptível que o mercado está se adaptando. As empresas estão buscando melhorar internamente para receber esse quadro de profissionais que estão chegando, mas ainda é uma adaptação muito singela, não está dentro do ritmo esperado. Com o passar do tempo e com a adequação das estruturas e das políticas públicas, tende a se equilibrar. Mas, infelizmente, é uma realidade futura.