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“Céu Azul é Tempestade” debate a reparação histórica e o racismo

Foto: Divulgação/Caravana Editorial

Escrito pela jornalista Patricia Xavier, o livro “Céu Azul é Tempestade” conta a história de Tereza, que, junto com seus filhos, Cido e Juninho, será uma das primeiras contempladas por uma decisão histórica: a retratação financeira pelo trabalho dos antepassados escravizados. Além das possibilidades de reparação pela injustiça sofrida por pessoas negras escravizadas e os desafios desse processo, a ficção também busca refletir sobre os possíveis caminhos para a compensação histórica e as consequências do racismo na contemporaneidade.

“Acredito que a ficção é uma maneira eficaz de envolver e chamar a atenção das pessoas para assuntos importantes. Quando alguém lê uma história, acompanha situações vividas pelos personagens e sente o desenrolar da trama junto com eles. Assim, é possível que esse leitor compreenda melhor as relações entre as pessoas e o mundo à sua volta”, destaca Patricia Xavier.

Jornalista Patrícia Xavier – Foto: Divulgação/Cléo Martins

Porém, a conquista de Tereza e seus filhos não é aceita pelos donos das terras da pequena Águas Correntes, descendentes daqueles que escravizaram os antepassados da protagonista e de outros habitantes locais. A escritora ressalta que Tereza possui semelhanças com as mulheres de sua família. “Elas fizeram o possível para que as gerações seguintes sofressem menos com o racismo. Assim como tantas outras mulheres, ainda lutam para que o fato de ser negro não seja um impedimento para se alcançar melhores condições de vida”.

Oprimida pela escolha entre sua família e a comunidade, Tereza contará com uma rede de apoio formada pelos filhos, amigos, a população quilombola local e a presença invisível de seu bisavô Bô, que acompanha seus passos e com quem se encontra nas rodas de jongo. Patricia enfatiza que a luta da protagonista é pelos filhos, pela comunidade e por todos que vieram antes. “Nas rodas de jongo há esse encontro, essa reverência por aqueles que foram sequestrados, arrancados de suas vidas, expostos a condições de trabalho extenuantes e que nunca desistiram. Lutaram, fugiram, se aquilombaram e são a base da força dessa comunidade para continuar a resistência”.

A autora acredita que seu livro possa se somar a tantas outras obras que abordam o racismo e a desigualdade no Brasil, estimulando o debate sobre esses temas. “Os negros no Brasil sempre lutaram e alcançaram conquistas importantes, mas precisamos avançar mais e com maior rapidez”.

Ela relata que o trabalho de escrever “Céu Azul é Tempestade” lhe proporcionou dois momentos de grande satisfação: o da escrita e o de ouvir a opinião dos leitores. “Fico muito feliz em saber como se sentiram próximos dos personagens, como a descrição das cenas os transportou para as ruas dessa cidade fictícia, como se identificam e compartilham a agonia de Tereza, como a tensão crescente da história os prende e, finalmente, como o desfecho os faz compreender a complexidade das relações entre pessoas negras e brancas de diferentes classes sociais no Brasil e o que precisa mudar”.

O livro também será traduzido para espanhol e francês. A jornalista considera essencial discutir o tema em outros países que também receberam pessoas escravizadas, assim como nas antigas nações colonizadoras. “As consequências da escravidão estão presentes até hoje na forma como as sociedades se organizam. Por isso, vejo esse debate sobre reparação como um tema fundamental e urgente para a redução da desigualdade”, conclui.