Entra ano, sai ano, seja campeonato regional ou nacional, o dilema é sempre o mesmo. Raro algum jogo terminar sem problemas com arbitragem. Virou rotina. Erros infantis, grosseiros ou de interpretação vem causando a ira de dirigentes e torcedores, sendo motivo de fortes discussões nos espaços esportivos da mídia. Criaram o VAR, tentativa de melhorar o padrão de qualidade, oferecendo mais segurança e justiça para o trabalho dos árbitros, mas a coisa piorou.
O árbitro de campo transferiu a responsabilidade para o árbitro do VAR e vice-versa. O jogo fica paralisado. Os caras tentam analisar o lance por longo tempo. É um bate-papo sem fim, medição de linhas, verificação da jogada anterior e outras bobagens. Árbitro e jogadores formam rodinhas no gramado. Torcida chia. Quem está acompanhando de casa palpita. A imprensa tenta arrumar argumentos. O jogo vira circo.
Depois de longa canseira vem a decisão. Em geral, sem agradar a maioria. Sofrendo com isso, a entidade organizadora do futebol já colocou em prática várias tentativas. Nomeou ex-árbitros para dirigir o setor. Não deu certo. Parece que a turma é muito cooperativista e um protege o outro. Segura a onda. As punições são brandas, tratadas como afastamento para reciclagem. Ninguém sabe onde e como é feito este trabalho. Rapidinho o árbitro de campo, o auxiliar ou a turma do VAR estão atuando normalmente e errando novamente. A turma reclama com razão que não são profissionais. Não podem dedicar tempo integral ao ofício. Não podem realizar uma preparação ideal. É certo. É uma situação que precisa ser resolvida. Mas convenhamos, a turma da arbitragem fatura uma grana bem razoável. Muito mais do que a maioria de profissionais qualificados de outros segmentos.
Enquanto todos tentam encontrar alguma solução, a CBF, dona do futebol brasileiro, acaba de nomear uma nova Comissão de Arbitragem que será coordenada pelo gestor Rodrigo Cintra e contará com os ex-árbitros Luiz Flávio de Oliveira, Marcelo Van Gasse, Fabricio Vilarinho, Luiz Carlos Bezerra, Eveliny Almeida e Emerson Filipino Coelho.
Alguns não foram tão bons tecnicamente, mas são experientes e conhecem bem o mundo da arbitragem do futebol. Ao mesmo tempo foi criado um Comitê Consultivo de Especialistas Internacionais, formado pelo italiano Nicola Rizzoli, o argentino Néstor Pitana e o brasileiro Sandro Meira Ricci.
Todos com currículo forte e respeitados mundo afora. Este comitê vai analisar os lances polêmicos e direcionar orientação e decisão para a Comissão de Arbitragem, inclusive com relação ao VAR. O objetivo do novo projeto é aprimorar o conhecimento técnico dos árbitros brasileiros, buscando reduzir as decisões equivocadas e padronizar o trabalho. “É sem dúvida uma boa ideia. Tem tudo para acertar e avançar na busca para transformar o futebol em algo mais justo, disciplinado e alegre”, como afirma o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.
Neste novo projeto, será criada também a Escola Nacional de Arbitragem, a elaboração de um ranking nacional de arbitragem. Paralelo às iniciativas citadas e já em vigor, a Comissão de Arbitragem e a diretoria da CBF pretendem desenvolver, ao lado das entidades ligadas aos árbitros de futebol, um programa bem elaborado para tratar da profissionalização do setor.
Ficou estabelecido o dia 31 de dezembro de 2027 como data- -limite para finalizar o programa e promover sua apresentação ao Congresso Nacional para possível transformação em lei federal. A tarefa não é fácil. Mexer com arbitragem do futebol é mexer com paixão pura. É tentar mudar de forma radical uma cultura enraizada. Porém, tudo vem evoluindo de forma rápida. A arbitragem do futebol precisa correr rápido para conseguir acompanhar.
Acredito que os projetos apresentados são bons. É necessário apenas um pouco de tempo para ser colocado em prática. A trilha aberta pode ser o caminho para evolução da arbitragem do futebol brasileiro. Vamos ficar de olho no apito.