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O abandono na educação

Quem visita o Instituto de Educação de Minas Gerais, fundado em 1906, na Rua Pernambuco – 47, ou o Colégio Estadual Milton Campos, o antigo Ginásio Mineiro, fundado em 1854, em seu novo/ velho endereço, em Lourdes, Rua Fernandes Tourinho, fica impressionado com a má destinação destes magníficos prédios para a educação em Minas Gerais. Tradicionais educandários mineiros, as duas instituições fazem parte de nossa história e cultura, tendo passado em suas salas de aula personagens que escreveram parte de nossa memória do último século.

O Instituto de Educação de Minas Gerais, maior escola da rede estadual de ensino, no início de sua existência preparava apenas moças para o magistério. Claro, em um país de analfabetos era necessário formar professoras para a educação, fato que ainda é realidade. Seu lema era “Educar-se para educar”, e sua prioridade a excelência das futuras professoras, que mereceram de Carlos Drummond de Andrade uma bela poesia. O prédio, logo na mudança da capital, foi sede do Tribunal de Relação do Estado de Minas Gerais (hoje Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais), um edifício modernista, da origem da Cidade de Minas, antigo nome da capital.

Só em 1906 é que a Escola Normal de Belo Horizonte ali se instalou, onde as moças da sociedade se preparavam para serem professoras, uma nobre missão, hoje nobilíssima. Neste prédio histórico, tombado pelo patrimônio público, existem obras de arte de relevante valor e um belíssimo auditório com afrescos no teto, que marcam o apogeu de sua época.

Atualmente, é vítima de vandalismo e pichações, dentro e fora de seus muros, onde, não raro, acontecem atos de violência entre seus alunos. Sua reforma parcial já demora alguns anos e suas instalações não poderiam estar em pior estado. Sua destinação, ao invés de ser um centro de excelência educacional, é usado para justa formação de alunos vindos de bairros distantes ou cidades da grande Belo Horizonte. Todos merecem ótima escola, preferencialmente os alunos de baixa renda, porém, a destinação do prédio merece ser revista.

Já o Colégio Milton Campos, instalado em Lourdes, é outro caso de destinação errada pela qualidade de suas instalações. De novo, estudantes moradores em lugares distantes são seus alunos, também merecedores de ótimas escolas, mas que não tenham que viajar até duas horas ou mais para frequentarem as aulas. Chamava-se Liceu Mineiro de Ouro Preto, antiga capital do Estado. Como Ginásio Mineiro foi transferido para a Cidade de Minas e teve sua primeira sede na Praça Afonso Arinos, depois rua da Bahia, Avenida Augusto de Lima em frente ao Mercado Central. A sede de Lourdes é obra do Governo Juscelino Kubitschek, com arquitetura de Oscar Niemeyer, inaugurado em 1954.

O mata borrão (antigo objeto usado no tempo das canetas tinteiro para secar a tinta) e a régua, inspiradores de seu formato, marcaram época na cidade, não só pela qualidade do ensino, como também pela sua rígida organização e disciplina. Lá estudaram os ex-governadores Eduardo Azeredo e Fernando Pimentel, além da ex-presidente Dilma Rousseff.

São dois patrimônios arquitetônicos da cidade, parte de nossa história, que merecem melhor destinação, zelo e destino. Abandonados à própria sorte, como estão, com o sub aproveitamento atual, comprometem o futuro de ambos. Compete ao Governo de Minas, através de sua Secretaria de Educação, reestudar estas destinações e quem sabe transformá-los em referências para o ensino com preciosos recursos para a qualidade exigida nos tempos atuais.