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Proibido proibir

O vereador Vile Santos (PL), que assumiu a cadeira na Câmara Municipal de Belo Horizonte este ano, apresentou um projeto que pretende proibir a prefeitura de financiar shows, artistas e eventos abertos ao público que envolvam, no decorrer da apresentação, expressões com apologias ao chamado crime organizado, sexo ou ao uso de drogas. Nas publicações feitas nas redes sociais, o vereador ganhou inúmeros adeptos à sua intenção.

Entre as alegações apresentadas no projeto, ele pretende com isso proteger o patrimônio cultural da cidade. Não acredito que a Prefeitura de BH, através da Belotur, ou de outros setores da cultura, contrate shows com esta possibilidade. Aliás, nunca presenciei isso em praça pública. O máximo que ocorre são shows em datas especiais no período junino. Não sei se duplas sertanejas podem ser incluídas no rol dessa proibição, a não ser pela qualidade do produto que apresentam. Não sei também se o projeto pretende atingir as projeções feitas no Cine Santa Tereza.

Ali são apresentadas mostras de cinema com debates sobre diversos temas, inclusive sexo. Por isso a necessidade de um debate maior sobre o que proibir e o que permitir. Será que o projeto pode atingir o carnaval de rua, já que é a prefeitura que cuida do repasse de verbas para blocos e escolas de samba? Será que a prefeitura pode determinar que a nudez ou o quase nu seja proibido em Belo Horizonte? Com relação aos blocos de ruas, os foliões poderão ser censurados? O projeto pode atingir o cidadão?

Eu penso que se alguém estiver nu, beijando demais ou fazendo outras “cositas”, cabe à autoridade policial por perto cuidar do assunto. Ter uma certa liberdade é sempre bom. Temos que lembrar que o carnaval é uma oportunidade para movimentar a economia da cidade. Hotéis, restaurantes, bares e ambulantes aproveitam a festa para arrecadar mais recursos.

Para começo de trabalho, o projeto do vereador é bom. Proporciona sua visibilidade. Mas seria bem melhor se ele se preocupasse de verdade com os inúmeros problemas que assolam nossa sofrida cidade. Só para citar algumas das prioridades de Belo Horizonte, recentemente, uma pesquisa da UFMG apontou o aumento do número de moradores de rua, que já é um problema bem antigo. A limpeza de nossas vias deixa muito a desejar. Para se ter uma ideia, o recém inaugurado viaduto sobre a via 710, no Bairro Fernão Dias, tem uma rotatória e o mato tomou conta dos canteiros. Onde seria grama ou um jardim, está virando uma floresta.

Também precisamos, urgentemente, de melhorias no transporte público e nas condições dos postos de saúde e UPAs. Um bom conselho para o vereador é que ele continue trabalhando em prol da cidade, não em projetos que atendam apenas a alguns interesses, mas sim em ações voltadas para toda a comunidade.

Lembrando que, quando a coisa é boa todo mundo aplaude, independente da opção ideológica de quem apresenta. Mas é preciso, realmente, atender aos interesses da sociedade, sempre prestando conta de sua atividade como parlamentar.

Pitaco 1: O filho do ex-presidente Bolsonaro chama a esquerda de hipócrita, alegando que outros 37 voos chegaram a Confins trazendo brasileiros que viviam de maneira ilegal nos Estados Unidos. Acho que não entenderam. A esquerda não critica a deportação. Dos 37 voos, nenhum cidadão foi algemado. Só neste.

Pitaco 2: Intensificam-se os ensaios dos blocos para o carnaval de rua. Muita paciência nessa hora.