Existe muita gente nesta alterosa de longas serras, campos e cerrados, de cidades históricas de pouco mais de 300 anos, mas de uma riqueza imensa, de rios numerosos, enfileirados e serpenteados pelo sertão das Minas e dos Gerais, de ouro e minerais, diamantes como Diamantina, de invenções para além da fronteira desta América Portuguesa, que não são valorizados, chegam, apresentam trabalhos científico ou cultural, e partem para o descanso, muitos sem deixar vestígios.
Trabalhei com um cidadão nascido neste antigo Curral Del Rey, que soube transformar sua simplicidade de vida num legado que, talvez, não será nunca lembrado por aqueles que podem e deveriam valorizar quem faz pela educação e pela cultura do nosso estado.
Pedro Sérgio Lozar (1º de maio de 1938) foi o melhor revisor que eu já tive notícias e pude vivenciar. Aliás, faço justiça à revisora Maria de Lourdes Queiroz, a Tucha, os dois foram o máximo nesta profissão de pouco valor. Eu e Lozar fomos colegas na Redação do Governador. Ele redator e revisor deste a era Itamar Franco. Eu entrei no segundo mandato de Aécio Neves, sem dúvida um dos mais atuantes mandatários que ocupou o Liberdade. Fui o redator do governador até quinze dias após o fim do breve governo de Alberto Pinto Coelho, sucedendo Anastasia, que saiu do Tiradentes para candidatar a senador – dois grandes mineiros, Lozar o revisor.
Lozar foi um autodidata dos mais iluminados. Com apenas o primário, sabia como ninguém a língua pátria e a perfeição da revisão: textos, redação e tradução, como obras do espanhol, do francês, do italiano e do russo, línguas que dominava sem suspeição. Ainda ficava atento nas citações do inglês e em outras línguas saxônicas. Foi revisor de vários autores, da Revista da Academia Mineira de Letras (AML) e da Encontro Importante.
Traduções: A doença: o que é, e para serve? À sua saúde, do espanhol Dr. Carmelo Bizkarra, pela Luzazul; Anna Karênina, de Leão Tolstói, versão do original russo, pela Itatiaia; Três gigantes da novela russa: Górki, Tolstói, Dostoiévski, seleção, tradução dos originais e comentários, pela Armazém de Idéias; e A vida surpreendente de Fiódor Chaliápin, biografia inédita, Edição do Autor. Autor do Dicionário Biográfico do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais; Fale sem receio, escreva com prazer, compilação de dificuldades e dúvidas de linguagem; todos pela Armazém; e Miscelânea, de 2017. Coautor: Enciclopédia dos Municípios Mineiros e Manual de jornalismo em rádio, ambos pela Armazém. Deixa inédita a obra Bárbara Heliodora, peça em três atos. Além de editor, escreveu diversos artigos para jornais e nas revistas universitárias e da AML.
Lozar era perfeccionista, mas conseguíamos uma sintonia perfeita; com ele aprendi muito. Um senso de humor inigualável. Foi contra o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, aprovado no dia 12 de outubro e instituído em 16 de dezembro de 1990 (substituindo o de 1940): Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, com críticas ferrenhas do porquê de sua rejeição, que sempre concordei em parte, por exemplo, como a abolição do trema, adoção das letras “k”, “w” e “y” no alfabeto, e de certas palavras com hífenes no escrever brasileiro. Em Portugal, pelo que acompanhamos, muitos continuam escrevendo como dantes. Há muita diferença e nuances nos falares entre os países lusófonos, principalmente no Brasil, por isso ainda há confusão e divergências. A Língua Portuguesa é uma das mais bonitas e de riqueza incomum do mundo.
Pedro S. Lozar partiu em dezembro, deixou a filha Valéria, os netos Tales e Luíza (São Paulo), muitos amigos e, amante dos felinos, muitos gatos.