Já faz parte de nossa tradição e descuido contabilizar acidentes rodoviários, aeroviários e deslizamentos de terra, com inevitáveis mortes e feridos, nestes tempos de verão e muita chuva. Entra ano e sai ano é o mesmo horror, sem que as raízes dos inúmeros problemas sejam atacadas. São todos identificáveis, porém, nenhuma medida é tomada para sua solução. Os buracos nas estradas, a imperícia e imprudência dos motoristas, além do álcool ao volante, um controle aéreo e pistas deficientes, a ocupação de encostas perigosas, são normalmente os culpados aos olhos dos menos avisados. Há, porém, um outro lado.
Um erro estratégico do país foi eliminar o transporte ferroviário que existia, pequeno e deficiente, é verdade, mas seu abandono foi um absurdo para um país continental. Todos os países do mundo, mesmo os menores, têm nas ferrovias a melhor opção de transporte de cargas ou passageiros. Além de menor custo, o aspecto segurança é considerado e tem melhor desempenho. Ou seja, nossa infraestrutura de transportes está, no mínimo, ultrapassada em décadas, senão em séculos. E vidas vão sendo ceifadas nas rodovias, mal construídas, mal conservadas, construídas há décadas, arapucas permanentes para seus transeuntes. Pontes estão caindo de velhice e falta de manutenção. Carros que não poderiam mais estar circulando, a notória imperícia dos motoristas, caminhões de carga pesada com seus reboques gigantescos, circulando a velocidades absurdas. As desculpas são sempre as mesmas “os freios falharam”, e lá vai um assassino responder por crime culposo. Como se freios conseguissem parar brutamontes de incontáveis toneladas. Concessões estão sendo feitas sem requerer imediatos investimentos, apesar da cobrança imediata dos pedágios.
No transporte aéreo, especialmente das pequenas aeronaves, não há boas notícias. O serviço de controle aeronáutico e meteorologia, talvez por imprecisão técnica, autoriza voos onde tempestades avassaladoras estão ocorrendo, pousos em aeroportos em reforma ou sem condições de operar. Nunca tantos aviões caíram e sacrificaram vidas como nos últimos tempos. E lá vão os bombeiros dar assistência aos raros sobreviventes.
Mas, nada se compara aos desastres dos desmoronamentos urbanos nestas terras molhadas, encharcadas, onde residências são construídas sob as vistas grossas dos peritos municipais e defesa civil. Depois dos anunciados e previstos acidentes, um sem número de especialistas em deslizamentos de terra aparecem e fazem o óbvio – condenam as construções. Mas, lá já estão famílias mortas, prejuízos de toda ordem, incontáveis consequências para as comunidades. Uma pergunta é inevitável, se a região é de perigo previsto e visível, onde a prefeitura não permitiu que houvesse loteamento, por que a omissão/permissão de construção de habitações? Onde poderia atuar a Defesa Civil para antecipar e evitar tais desastres? Acredito que em um futuro remoto estas ações vão acontecer.