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Minas registrou mais de 8 mil casos de agressão contra crianças e adolescentes

São uma média de 196 ocorrências por dia no país – Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Minas Gerais é o segundo estado com mais notificações de casos de violência física contra crianças e adolescentes de até 19 anos. Em 2023, foram 8.598 registros. São Paulo aparece em primeiro lugar, com 17.278 agressões, uma média de quase 50 casos por dia. Os dados são da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) com base nos números adquiridos pelas unidades de saúde.

O Brasil registrou uma média de 196 casos diários de violência física. Foram mais de 3 mil notificações envolvendo bebês com menos de 1 ano, enquanto 8.370 casos estavam relacionados a crianças de 5 a 9 anos. Para debater o assunto, o Edição do Brasil conversou com a médica pediatra, Isabela Resende Silva Scherrer.

O que pode explicar essa quantidade de ocorrências?
São dois os motivos que podem esclarecer esse número de casos: a vulnerabilidade da faixa etária que, por sua característica de necessidade de cuidados e oferta de proteção por cuidadores, os coloca em maior risco. E a ideia de violência como método de educação punitivo, o que faz com que muitos jovens sofram com as agressões como forma de castigo, correção ou punição.

Quais são as principais consequências dessa violência na vida das crianças e adolescentes?
A violência gera inúmeras consequências na saúde das vítimas, como alterações de saúde mental (maior incidência de depressão, ansiedade, tentativas de autoextermínio) e déficits de aprendizado, de memória e concentração. Além disso, as vítimas podem apresentar maior dificuldade de interação social e alterações de comportamento, como agressividade ou embotamento afetivo. Por fim, vale destacar que essas ocorrências podem resultar em lesões e sequelas físicas graves e irreparáveis.

Como os profissionais de saúde são treinados para diagnosticar e conduzir adequadamente esses casos?
Um dado muito alarmante é que a violência contra crianças e adolescentes ocorre em cerca de 80% dos casos dentro de suas próprias casas. Por isso, é fundamental que os profissionais de saúde estejam atentos aos sinais. Há indícios visíveis ao exame clínico e complementares, como hematomas, lesões de queimadura, fraturas inexplicáveis ou específicas de traumas intencionais. Mas, a atenção também deve ser dada às alterações de comportamento, agressividade, depressão e medo extremo do contato físico no consultório. Cabe ressaltar que mesmo a suspeita de violência deve ser obrigatoriamente notificada ao Conselho Tutelar local.

Segundo a pesquisa, os adolescentes de 15 a 19 anos foram os que mais sofreram agressões, com 35.851 notificações. Por que essa faixa etária é a principal vítima de maus-tratos?
A adolescência é um período marcado por inúmeras transformações no indivíduo. No contexto da violência domiciliar, um dos fatores para que esses jovens sejam vítimas mais frequentemente é a dificuldade dos cuidadores em compreenderem as características e necessidades dessa etapa, gerando os conflitos e o uso da agressividade como método de punição. Além disso, eles também são vítimas da violência social, uma vez que passam a interagir com autonomia no meio em que vivem e estão sujeitos a sofrer de mazelas como brigas, agressões e homicídios.

O que o poder público pode fazer para diminuir esse índice?
Para o combate à violência é importante fortalecer ações de prevenção, como as campanhas para informação e conscientização da população. Além disso, os serviços e profissionais de saúde devem ser adequadamente treinados para a identificação precoce de sinais de agressão em todos os níveis de serviços, bem como para a adequada notificação desses casos.

Analisando o momento atual, você acredita que esses números podem diminuir em curto prazo?
Não em curto prazo, uma vez que requer conscientização e mudanças na população, contudo, creio em médio prazo. Isso porque muitos órgãos públicos e entidades relacionadas ao cuidado com a criança estão investindo em campanhas e ações para prevenção da violência.