
Inaugurando um novo paradigma na cena cultural brasileira e celebrando a diversidade musical de pessoas com sofrimento mental, Belo Horizonte irá sediar o 1º Festival de Música Doida. Entre os dias 30 de outubro e 1º de novembro, a Funarte será palco de uma programação gratuita com shows, debates e intervenções artísticas.
“A inspiração surgiu a partir da minha experiência de trabalho, aliada à militância no movimento antimanicomial e, sobretudo, ao me deparar com pessoas talentosas, com criações incríveis e inusitadas. Testemunhei composições, canções e experimentações sonoras que emergem da dor e da resistência, rompendo com formas rígidas e abrindo novas maneiras de perceber a arte e o sensível”, revela o idealizador da iniciativa, Babilak Bah.
Segundo ele, um dos objetivos do evento é revelar novas sensibilidades, possibilitar diálogos entre subjetividades, estabelecer novos vínculos com a cidade e alegrar as almas adoecidas pelo ódio e pelo descontentamento social. “Apesar de tudo, viver é preciso, convivendo com as diferenças. O preconceito está presente em todos os âmbitos da vida humana e o universo cultural não está imune a esse fenômeno desprezível. O 1º Festival de Música Doida busca estabelecer novos parâmetros de criação e sensibilidade, construir pontes, abrir possibilidades e dar visibilidade a um grupo de criadores que permanece invisível”.
Programação
Shows, debates, palco aberto e sessões de filmes ocorrerão ao longo dos três dias. A programação completa está disponível no site festivaldemusicadoida.com.br. Babilak Bah destaca que as atividades foram pautadas na diversidade, já que na saúde mental existe uma pluralidade de produção artística desconhecida pela sociedade. “Foi com esse pensamento que nossa curadoria concebeu o evento, marcado pela hibridez de linguagens. Por isso, é necessário apresentar uma produção ampla já na primeira edição do festival”.
“No campo da saúde mental, temos criadores diversos que transitam por várias linguagens. Trata-se de uma produção que precisa ser valorizada e apoiada pelo poder público e por iniciativas privadas comprometidas com o desenvolvimento social e humano”, acrescenta.
Esta edição homenageará Olavo Rita da Conceição, conhecido como Olavo Alegria, um dos fundadores do coletivo Trem Tan Tan, falecido em 2020. “Era um homem muito dedicado e contribuiu de forma significativa para o crescimento do coletivo. Como legado, ficou a sua simplicidade, alegria, disposição e simpatia. Ele nos deixou um samba que diz: ‘O Trem Tan Tan na avenida desfilou para acabar com os preconceitos da sociedade’”.
Relação com a reforma psiquiátrica
O idealizador do evento ressalta que a existência do festival só foi possível graças ao surgimento do movimento político antimanicomial e da reforma psiquiátrica brasileira, que teve a coragem de denunciar os maus-tratos vividos em manicômios.
“O festival é um desdobramento desse trabalho político desenvolvido pela reforma psiquiátrica. Nesse contexto, ele busca dar voz e visibilidade a criadores e iniciativas musicais na área da saúde mental, derrubar preconceitos, revelar novas sensibilidades e ocupar a cena cultural da cidade com uma criação que preza pela liberdade criativa e reflete uma arte antirracista. Afinal, o racismo também é uma forma de perpetuar o manicômio”, finaliza.