Com a melhora na cobertura vacinal em 13 das 16 vacinas que compõem o calendário infantil, o Brasil saiu do ranking dos 20 países com mais crianças não imunizadas do mundo, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2021, o Brasil ocupava a 7ª posição na lista.
Um dos exemplos é a vacina que protege contra difteria, tétano e coqueluche, que caiu de 418 mil em 2022 para 103 mil em 2023. O número de crianças brasileiras que não receberam a DTP3 também teve uma queda expressiva: de 846 mil em 2021 para 257 mil em 2023. Para discutir esses avanços, o Edição do Brasil conversou com a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações – Regional Minas Gerais (SBIm-MG), Jandira Campos Lemos.
O que contribuiu para esse aumento na cobertura vacinal nas crianças?
Nos últimos anos, vimos uma queda na cobertura vacinal, seja pela visão de que algumas doenças não estão circulando mais, que foram erradicadas graças à vacinação e o crescimento do movimento antivacina. O Ministério da Saúde passou a investir na capacitação em todo o país para atingir a melhoria na cobertura vacinal. Aliado a isso, alguns municípios, como Belo Horizonte, fizeram a vacinação dentro das escolas e houve a busca ativa por parte de agentes de saúde para que as crianças fossem vacinadas.
Com as taxas em níveis adequados, podemos controlar e erradicar doenças, como a poliomielite?
O Brasil não registra casos de pólio desde 1989. O controle da doença é feito com a vigilância de casa. Todo menor de 15 anos que apresentar uma paralisia súbita tem que ser notificado e investigado para saber se é poliomielite ou não. Mas, não adianta um município ter 95% ou 100% de cobertura vacinal e as cidades vizinhas abaixo disso.
Algumas vacinas, como a BCG e da COVID, têm enfrentado baixas coberturas vacinais. Como seria possível melhorar esse quadro?
Depois de um período de escassez, o Brasil hoje já possui 100% do necessário para a aplicação da BCG. Porém, hoje é feita a distribuição da vacina para uma quantidade limitada de locais, que acabam marcando o horário da aplicação. Devido ao tempo e a distância, a pessoa não toma o imunizante. Aumentar a quantidade de salas de vacinação que vão ofertar BCG todos os dias é a chance de melhorar as taxas.
Com relação à vacina da COVID, quando estávamos no meio da crise sanitária, todo mundo estava desesperado pela vacinação. Ainda há a circulação do SARS-CoV-2, mas não vemos aquela quantidade de óbitos e internações, porque a vacina protege a população. Devemos mostrar à nossa população a importância de tomar a dose de reforço.
As vacinas são alvo frequente de fake news. Como mostrar à população que elas são seguras e ajudam na prevenção de doenças?
Seria importante evidenciar o processo de produção dos imunizantes e os cuidados que são tomados durante a produção de um imunobiológico. Hoje, estamos vivendo uma epidemia de informação, onde tudo é divulgado rapidamente. As pessoas devem confiar nas entidades oficiais, como o Ministério da Saúde. Precisamos de uma educação contínua para acabar com as fake news.
O Programa Nacional de Imunizações completa 51 anos neste mês. Qual é a importância dele para o Brasil?
É um dos programas de maior sucesso no país e também no mundo. Nos últimos anos, houve investimentos nos laboratórios nacionais para que produzissem, através da transferência de tecnologia, as vacinas a serem utilizadas no posto de saúde. Além dos investimentos em capacitações profissionais e sistemas de informação. O PNI tem ajudado a melhorar nossas coberturas vacinais.