Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) tem sido usado como uma das soluções baseadas na natureza para o combate às mudanças climáticas e preservar o meio ambiente. Na prática, as pessoas que preservaram a área onde moram ou que usaram a terra de uma outra forma, são contempladas, seja para manter o local da forma em que está ou para reflorestar a área. Em Januária, a região da microbacia do Riacho da Quinta foi contemplada com o PSA desde o ano passado. É o segundo projeto da modalidade na Caatinga.
O geógrafo e coordenador de projetos da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), Luiz Gustavo Vieira, conta que esse modelo já foi utilizado em Brumadinho, após o rompimento da barragem Mina Córrego do Feijão. Ele detalha que foi feito um diagnóstico para saber quais locais poderiam receber os recursos financeiros. “Nós percebemos que a população local estava usando toda a água do riacho e ela não estava chegando à foz do Rio São Francisco. Queríamos desenvolver uma solução baseada na natureza que pudesse retornar com a água ao local e iniciamos com a população mais vulnerável”.
Além dos recursos do consulado da Irlanda, a Prefeitura de Januária criou um fundo municipal para a destinação de recursos. Vieira conta que desde o início houve o apoio do Executivo, porém, o primeiro desafio foi conquistar a desconfiança da população. “Quando o órgão ambiental chega nas casas, geralmente é para fiscalizar e para multar. Porém, estávamos oferecendo um projeto que iria premiá-los, algo que não era comum. Houve uma certa resistência e descrença em soluções baseadas na natureza”.
A princípio, o projeto terá a duração de dois anos. Vieira detalha que algumas melhorias já foram percebidas, principalmente no comportamento da população e dos gestores locais. “Nós dividimos em duas melhorias. A tangível é aquela que você consegue olhar por imagem de satélite. Por lá, percebe se a vegetação cresceu e se a qualidade da água melhorou. Como o projeto ainda é recente, não houve o ganho tangível ainda”.
“Já observamos ganhos intangíveis. Por exemplo, a mudança da percepção da população em relação ao meio ambiente e o entendimento das leis ambientais. Era comum as pessoas não entenderem a legislação ambiental e ocupar toda a margem do rio. Mostramos que no entorno dos rios deveria existir Áreas de Preservação Permanente e iríamos premiá-los para abandonar essas regiões. Os gestores ambientais, os prefeitos, vereadores e secretários viram que é possível desenvolver a melhoria na qualidade da água e na vida das populações, por meio de soluções baseadas na natureza”, acrescenta.
Outras soluções na natureza
Além do PSA, outros problemas podem ser solucionados por itens que são encontrados na natureza, como exemplifica o geógrafo. “No caso de inundações, um caminho seria o plantio de árvores, que também contribuem no combate ao aquecimento global. Elas conseguem refletir e absorver o calor, além de deixar os lugares mais úmidos”.
“No combate a pragas, ao invés de utilizar agrotóxicos, podem ser utilizadas espécies de insetos que eliminam outros insetos. Com a canalização dos rios, eles se tornam retos e isso reduz seu atrito e distância. Uma solução seria colocar curvas nele”, conclui.