Apesar do tempo ensolarado e com grandes ventos, propício para a prática de soltar pipa, a brincadeira pode causar prejuízos e acidentes. Segundo a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), somente nos quatro primeiros meses deste ano, foram registradas 458 ocorrências com a rede elétrica causadas por pipas, que afetaram quase 100 mil clientes em todo o Estado. Apenas na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), essa brincadeira gerou cerca de 174 ocorrências de falta de energia, deixando aproximadamente 44 mil unidades consumidoras sem luz.
No ano passado, a Cemig registrou 2.837 ocorrências causadas por pipas que prejudicaram 760 mil clientes. Na RMBH, foram 1.292 ocorrências, que interromperam o fornecimento de energia de quase 430 mil residências. Um dos principais causadores de ocorrências no sistema elétrico é o cerol, uma mistura cortante feita com cola, vidro e restos de materiais condutores que pode cortar os cabos da rede elétrica e provocar acidentes com a população. Além disso, muitos curtos circuitos acontecem pela tentativa de retirada de papagaios presos aos cabos.
O eletricista de redes de distribuição, Ronaldo da Silva, explica que soltar pipa nos centros urbanos não é recomendado. “É mais seguro para todos fazer isso em áreas mais isoladas que não apresentam grande quantidade de redes de distribuição. Quando o material fica preso na fiação e a pessoa tenta retirar, costuma levar um choque e a descarga elétrica ser fatal. Se o objeto ficar agarrado em árvores, também não é recomendado escalar para recuperá-lo, visto que, dessa forma, você pode acabar encostando na rede elétrica”.
Outro fator preocupante também é o uso do cerol e linha chilena, que podem não apenas causar mutilação em motociclistas, mas também cortar os cabos da rede elétrica. “Além disso, o uso de arames, fios e também do cerol no papagaio pode fazer com que ele vire um grande condutor de energia, facilitando que a criança ou o adolescente tome um choque”, completa.
A Lei 23.515/2019 veda a comercialização e o uso de linha cortante em pipas, papagaios e similares e prevê multa para quem for pego vendendo o produto. No caso da posse de menores de idade, os pais ou responsáveis legais serão notificados da autuação e o caso será comunicado ao Conselho Tutelar.
Ocorrências graves
A utilização dessas linhas cortantes, além de causar ocorrências na rede elétrica, provocam acidentes graves entre motocicletas e ciclistas, que costumam ser as principais vítimas. Por serem quase invisíveis, passam despercebidas e ocasionam cortes profundos, principalmente na região do pescoço.
No dia 23 de maio, um homem de 23 anos morreu após ser atingido por linha chilena enquanto trafegava pela MG-010, em Vespasiano. Segundo a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), a vítima seguia pela rodovia quando foi atingida pela linha. O motociclista teve um corte profundo no pescoço. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e confirmou a morte da vítima.
O motoboy Cleiton Rodrigues também foi vítima das linhas cortantes. “Deixei o pedido com o cliente e quando estava voltando senti fortes dores no pescoço, que foi rasgado com muita facilidade, cortando veias e nervos da região. Tive sorte que uma mulher parou o carro e rapidamente chamou a ambulância, enquanto eu ainda tinha forças para estancar o sangue com um pano. Precisei fazer uma cirurgia delicada e passar por um longo processo de recuperação”.