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25% das mulheres já sofreram violência obstétrica no país

Denise Gomes: “É preciso mais informação para que as mulheres não sofram” | Foto: Divulgação

Dados do Relatório das Nações Unidas mostram que uma em cada quatro mulheres já sofreram violência obstétrica no Brasil. Segundo a análise, nos últimos 20 anos, profissionais de saúde ampliaram o uso de intervenções que antes serviam apenas para evitar riscos ou tratar complicações no parto. A pesquisa “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, da Fundação Perseu Abramo, revela que 25% delas já vivenciaram algum tipo de violência obstétrica.

O tema ganhou evidência após o médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra ter sido filmado estuprando uma paciente dopada durante uma cesariana. Depois da repercussão, outras mulheres pediram investigação de seus partos para saberem se foram ou não abusadas pelo profissional, uma vez que ele criou o hábito de aplicar doses altas de sedativo para deixá-las desacordadas.

Para tentar compreender melhor esta situação, o Edição do Brasil conversou com a ginecologista e obstetra Denise Gomes.

O que pode ser considerado violência obstétrica?
É toda ação realizada durante a assistência a uma gestante ou puérpera que desrespeite a sua autonomia, seu corpo, sem a sua anuência e concordância, e sem necessidade ou em desacordo com o preconizado pelas evidências científicas. Tal violência pode ser física, verbal ou sexual.

25% das mulheres já sofreram violência obstétrica. A que você atribui isso?
Acredito que a uma série de fatores, que envolve desde a formação dos profissionais, estrutura dos serviços por vezes inadequada, além da falta de acompanhamento de pré-natal, o que aumenta os riscos gestacionais e a desinformação das mulheres.

Como é possível identificar este tipo de violência?
Quando a mulher não estiver vivenciando uma experiência de assistência que lhe traga conforto e segurança, podemos estar de frente a uma violência obstétrica. Evitar a agressão não significa não fazer procedimentos invasivos, mas executá-los quando necessário, da melhor maneira possível, e sempre orientando o que está acontecendo.

Por muitas vezes temos que agir rápido e realizar intervenções. O tempo pode ser crucial entre a vida e a morte. Mas podemos e devemos fazer isso sempre com respeito, acolhimento e informando o que está ocorrendo.

Como a mulher pode encontrar um profissional que a deixe confortável e segura. Como avaliar isso?
A escolha do profissional é particular. Acredito que o melhor seja sempre fazer o pré-natal e aproveitar esses momentos para tirar todas as dúvidas e entender se família e equipe estão em acordo. Acredito que sentir clareza e empatia são fundamentais.

Quais as consequências físicas e mentais que essa violência pode trazer?
São muitas, nem consigo descrever todas. A mulher que dá à luz em uma situação de violência tem mais risco de desenvolver blues puerperal (melancolia da maternidade) e depressão pós-parto. Além disso, pode ter mais dificuldade em amamentar e cuidar do bebê, desenvolver medo de uma futura gestação e isso limitar seu planejamento reprodutivo. Cada caso é único e as consequências podem ser variadas.

Quais medidas poderiam ser tomadas para diminuir esses casos?
Melhorar o planejamento reprodutivo e a assistência ao pré-natal, divulgar informação de qualidade e adequar os serviços de saúde melhorando a infraestrutura. Além de investir em treinamento e qualificação permanente dos profissionais e estimular a aproximação das gestantes aos serviços de saúde durante a gestação.