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Futebol x Violência

Foto: Reprodução/Premiere

Em mais um clássico eletrizante, realizado no último domingo, com público de 53 mil torcedores no Mineirão e digno de um Atlético e Cruzeiro, cenas lamentáveis de violência foram registradas antes da partida no bairro Boavista, região Leste da Capital. Já em campo, confronto vencido pelo Galo de virada por 2 a 1 foi emocionante. O Cruzeiro surpreendeu inicialmente com um futebol ofensivo e bem organizado. Encarou o Atlético cheio de estrelas e com uma equipe bem superior tecnicamente de igual pra igual. Mas um pênalti a favor do Alvinegro, no mínimo polêmico, já no fim do segundo tempo, abriu o caminho para a virada atleticana. O destaque negativo fica por conta da violência que insiste imperar em nosso futebol. Torcidas organizadas de Atlético e Cruzeiro transformaram ruas de BH em verdadeira batalha campal. O resultado dessa barbárie foram muitas cenas de pânico, pancadaria, selvageria e uma vítima fatal baleada e outra encaminhada ao hospital.

Esse tema “futebol x violência”, tão recorrente infelizmente, merece de nossa sociedade algumas reflexões, senão vejamos.

O futebol como desporto é considerado por muitos a grande paixão popular e nas palavras do saudoso Papa João Paulo II, “o futebol é a paixão dos povos”, sendo caracterizado pela crítica desportiva como o maior fenômeno social de todos os tempos. Tal afirmação é facilmente constatada na medida em que analisamos o amor que os torcedores têm pelo seu clube de coração.

Contudo, há certo tempo que uma inquietação vem incomodando o dia a dia de todo torcedor de bem e apaixonado por futebol: o caso da violência presente dentro e fora dos estádios. Esse fato tem afastado e amedrontado o torcedor, que vem optando, por diversas vezes, em assistir ao jogo em casa, diante do conforto, segurança e, principalmente, distante da violência.

Esse esporte tão emocionante como meio de expressão de massas tornou-se tema comum de ensaio e pesquisa no que se refere à canalização de algumas formas de agressividade que têm ocorrido numa partida de futebol não precisamente dentro do campo, mas em todo o estádio, sobretudo nas arquibancadas e nos arredores do mesmo, o que, de certa maneira, está imbuído no contexto desse esporte.

É sabido de que um dos principais fatores que contribuem para a violência no futebol seria a presença das torcidas organizadas, que muitas vezes vão ao estádio ou até mesmo marcam confrontos pelas redes sociais para protagonizar cenas de violência, como aquela que, lamentavelmente, presenciamos através da imprensa, antes do início do clássico, onde uma vida foi ceifada de forma cruel, torpe e sem qualquer propósito.

Não restam dúvidas de que a violência está caracterizada como parte intensa das camadas de toda a sociedade moderna e de que as causas políticas e sociais têm suas respectivas parcelas de culpa por tudo que vem ocorrendo quando o assunto é violência no futebol. Com isso, cabe às autoridades públicas contribuir para a criação de leis rigorosas e efetivas, meios de prevenção eficazes e repressão contra todo e qualquer meio de violência empregado por pessoas que se dizem torcedores, mas em verdade, são verdadeiros criminosos e merecem punições exemplares.

Não há dúvidas de que a violência no esporte advém de uma face da sociedade que engloba a violência no cotidiano. O esporte que, teoricamente, deveria sublimar a violência, passou a ser a própria forma de manifestação desse fenômeno. Infelizmente, tem sido cada vez mais frequente a violência no esporte.

As causas da violência no esporte são inúmeras. Mas sabemos que a impunidade é um fator determinante para a continuidade deste quadro. Lamentavelmente que muitas pessoas que se julgam apaixonadas pelo esporte promovam a violência. Esporte é exatamente o oposto disto.

Infelizmente, nos dias atuais, está cada vez mais rara a possibilidade de irmos a um jogo de futebol e não ficarmos assustados com a possibilidade de sermos agredidos por verdadeiros criminosos travestidos de torcedores, que vão aos estádios para promover baderna, desordem, depredação de patrimônio alheio e, em alguns casos, ceifar a vida daquele que veste a camisa da equipe rival. Lamentavelmente, ganhar ou perder não importa mais. A meu sentir, a solução para tentar conter essa onda de violência é a prevenção, serviços de inteligência das forças policiais e medidas enérgicas contra os transgressores. Identificação facial, monitoramento de redes sociais e cadastro de torcedores são efetivamente boas alternativas.

Deste modo, resta cada vez mais latente que a violência envolvendo o futebol deve ser tratada com mais responsabilidade pelas autoridades, uma vez que o futebol é o esporte mais praticado pela sociedade brasileira e considerado por todo o mundo como um grande espetáculo desportivo, sendo o Brasil conhecido, inclusive, como o país do futebol. A conscientização das autoridades sobre a gravidade do assunto seria o primeiro passo para que os verdadeiros torcedores voltem a ter segurança e que famílias resgatem o prazer de ir ao estádio para simplesmente se divertir e torcer pelo time do coração.

*Wanderley Paiva
Desembargador do TJMG Bacharel em
Comunicação Social
ws-paiva@hotmail.com