A pandemia de COVID-19 trouxe incertezas para os mais variados setores da economia. No entanto, as dificuldades parecem ter sido superadas pelo mercado imobiliário nacional no ano passado e apontam para recuperação do segmento. De acordo com dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o número de vendas de novos imóveis cresceu 12,8% em comparação com 2020, chegando a 261.443 mil unidades comercializadas. Já os lançamentos registraram aumento de 25,9%.
Segundo o presidente da CBIC, José Carlos Martins, o maior problema que a construção civil tem hoje é a ausência de mão de obra. “O setor está muito aquecido. Isso porque, em 2020 e no primeiro semestre de 2021, as vendas foram muito boas e batemos recordes atrás de recordes. Os números consolidados de 2021 são positivos, mas isso precisa ser lido com atenção, porque no último trimestre a curva estabiliza e começa a decrescer”.
Ainda conforme o levantamento, os lançamentos e as vendas do segundo semestre de 2021 foram afetados pela mudança do cenário econômico e, principalmente, pelos efeitos da majoração dos insumos da construção. Também houve uma redução efetiva no poder de compra das famílias. “Lá atrás, falávamos que o aumento de custo não era compatível com o reajuste da renda das pessoas. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve estar girando em torno de 10%, o Índice da Construção Civil está em torno de 20%, ou seja, o custo da construção subiu muito mais do que a capacidade de reposição dos salários”, destaca Martins.
Outra pesquisa da CBIC aponta que o preço médio dos imóveis residenciais subiu 10,38% em 2021, ficando abaixo do Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), de 13,85%. Para Martins, o mercado cresceu no acumulado de 2021 ajudado pelos juros baixos dos financiamentos imobiliários. “Também não havia tanta pressão de custos até o começo do último ano. Porém, no decorrer do segundo semestre, a situação virou e tivemos aumento dos juros e a necessidade de repasse dos custos dos insumos para o valor final dos imóveis. Por consequência, houve uma mudança na curva de vendas, que se estabilizou e depois entrou em declínio”, completa.
Intenção de compra
De acordo com estudo da Brain Inteligência Estratégica, empresa de pesquisa e consultoria em negócios, 62% dos brasileiros não têm vontade de comprar; 20% têm intenção, mas não começaram a procurar ativamente; 12% possuem desejo, mas procuraram apenas na internet; e 6% têm intenção e já iniciaram as visitas a imóveis e stands de vendas.
Na avaliação de Guilherme Gomes, gerente de vendas de uma imobiliária, o ramo é um dos que mais se recuperou da crise causada pela pandemia. “Na nossa empresa, tivemos um crescimento nas vendas de quase 30% no ano passado comparado a 2020. O mês com maior destaque foi outubro de 2021. O setor tem enfrentado os preços elevados de materiais e insumos para construção, mas o mercado vai aos poucos se adequando. Outro fator é que o consumidor tem vontade de comprar, mas fica preocupado se o valor cabe no bolso”.
Casa Verde e Amarela
No programa habitacional do governo Federal, o Casa Verde e Amarela (CVA), que substituiu o “Minha Casa, Minha Vida”, as vendas aumentaram 3,4% em 2021 em relação ao ano anterior. “O mercado deve ser afetado positivamente pela nova curva de subsídios que entrará em vigor entre março e abril deste ano. A expectativa é que a melhora nas vendas pode fazer com que os números dos indicadores fiquem próximos aos do ano passado”, afirma o presidente da CBIC.
O levantamento ainda analisou a participação do programa habitacional Casa Verde e Amarela no total de unidades lançadas e vendidas em todas as regiões brasileiras. No 4º trimestre de 2021, a participação do programa registrou leve queda em relação ao trimestre anterior, passando de 47% de todos os imóveis vendidos no Brasil para 45%. Em relação aos lançamentos, do total do 4º trimestre, 41% foram do Casa Verde e Amarela. A região com o maior número de unidades vendidas pelo CVA no último trimestre do ano passado foi a Sudeste (18.167), seguida do Nordeste (5.248).