O endividamento se tornou uma realidade assombrosa no ano passado. Dados de uma pesquisa realizada pelo Serasa apontam que, nos últimos 12 meses, 75% das famílias possuíam alguma dívida. Mas, com o início de um novo ano, é inevitável não ter a esperança de que dias melhores virão. É possível, então, sair do vermelho em 2022?
De acordo com o economista Pedro Lima sim, mas para isso a pessoa deve conhecer o cenário financeiro em que se encontra. “Isso envolve colocar no papel todas as dívidas, contas a pagar e recebimentos. Algumas das informações importantes, a saber, são o valor total do débito, a taxa de juros, multas e outros encargos que podem incidir sobre o montante, além das condições de negociação da empresa credora”.
Segundo ele, a partir disso, é possível ter clareza sobre quanto se ganha e gasta por mês. “Isso permite que a pessoa saiba se consegue poupar algum valor para ser direcionado ao pagamento do débito. Com todas as informações em mãos, ela pode procurar formas de negociação que sejam interessantes dentro do seu contexto. Caso descubra que não há espaço no orçamento atual para tal, a recomendação é buscar alternativas para reduzir os gastos e economizar ou conseguir uma renda extra”.
Foi exatamente o que fez a auxiliar de cozinha Meire Souza. Ela recorda que, mesmo tentando melhorar as parcelas no banco, não sobraria dinheiro no fim do mês. Por isso, decidiu buscar outros meios de gerar renda. “Meu marido está desempregado e estou segurando ‘as pontas’ sozinha, o que é difícil. Nossa dívida, inclusive, veio daí. Uma necessidade aqui e outra ali no cartão de crédito e acabou se tornando uma bola de neve. Decidi começar a fazer unha em domicílio nos finais de semana. É cansativo, às vezes atendo durante o sábado todo, mas também sei que é preciso nesse momento”.
Com o dinheiro das unhas, Meire está conseguindo pagar sua dívida. “Estou na terceira parcela de um acordo de 18 mensalidades. Vai ser demorado, mas, ‘limpar meu nome’ é uma questão de honra. Estou na esperança de que meu esposo consiga se recolocar no mercado de trabalho em breve. Quando isso acontecer, pretendo acelerar um pouco o pagamento dessa pendência e evitar ao máximo usar o cartão. Aprendi da pior maneira que não é uma saída muito inteligente”.
O especialista em investimentos e planejador financeiro Thiago Martello julga ser primordial a restrição de crédito. “Os bancos e governo devem diminuir a facilidade de acesso e deixar claro para a população que o pagamento após o uso não é algo simples. Mas essa postura, infelizmente, é difícil de acontecer, pois os bancos ganham milhões em cima disso. Tanto é que todo ano um deles bate um recorde. Por isso, não há o interesse de conscientizar as pessoas de tomarem esse cuidado, pelo contrário, existe uma normalização desse endividamento”.
Ele acrescenta que isso pode ser observado nas inúmeras ofertas existentes. “Compre tal coisa agora e só comece a pagar daqui a tantos meses. O mercado está programado para fazer com que a gente caia na cilada do crédito. E só nós conseguiremos mudar a realidade desse ciclo. Precisamos ter conhecimento do nosso orçamento e do que, de fato, podemos pagar ou não”.
Martello conclui dizendo que a educação financeira é o caminho. “É preciso começar desde a escola para que as pessoas cheguem à fase adulta já sabendo como controlar suas finanças. E, principalmente, trabalhar a disciplina porque ela é a chave para uma vida sem dívidas”.