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Metade dos pais não vacinou os filhos contra meningite durante a pandemia

No mundo todo, metade dos pais (50%) adiou ou faltou à data prevista para nova dose de vacina contra a doença meningocócica de seus filhos durante a pandemia. É o que aponta uma pesquisa do Instituto Ipsos encomendada pela farmacêutica GSK.

Segundo o levantamento, que ouviu 4.962 pessoas de oito países diferentes, os três principais motivos para o adiamento ou falta à vacinação das crianças foram as medidas de isolamento social (63%), a preocupação de contrair a COVID-19 em locais públicos (33%) e a necessidade de cuidar de alguém contaminado com o novo coronavírus, como um membro da família ou eles próprios (20%).

No Brasil, 57% dos entrevistados declararam ter desistido ou adiado algum compromisso ou consulta de saúde dos filhos durante a pandemia, porcentual acima dos 46% da média geral da pesquisa. No entanto, quando se trata especificamente de vacinação contra meningite meningocócica, eles foram tão propensos a faltar ou atrasar alguma dose do esquema vacinal quanto os demais participantes (50%).

Como explica o médico Luís Gustavo Trindade, a meningite é uma inflamação séria das meninges, uma fina camada que envolve o cérebro e a medula espinhal, ocasionada principalmente por vírus, fungos, parasitas e bactérias, sendo esta última a forma mais grave da patologia. “Os agentes são transmitidos de pessoa para pessoa por meio de secreções respiratórias ou da garganta de portadores contaminados que não apresentam nenhum sintoma”, afirma.

De acordo com Trindade, os indícios variam conforme a causa. “Os sinais podem ser leves como apenas febre e dor de cabeça, sobretudo nas meningites virais. Nas meningites bacterianas, os mais comuns são sensação geral de cansaço, febre alta repentina, dor de cabeça grave e persistente, rigidez do pescoço, náuseas ou vômitos, desconforto provocado pela luz (fotofobia), sonolência ou dificuldade de despertar, dores nas articulações, confusão, entre outras mudanças mentais”, alerta.

O diagnóstico é feito por meio de suspeição clínica, exames de sangue e identificação do agente infeccioso pela punção do líquor, também chamado de fluido espinhal. “O tratamento é realizado com antibióticos nas meningites bacterianas. Já nos casos virais, não existe tratamento específico, utiliza-se antitérmicos e analgésicos para aliviar os sintomas. A meningite é uma doença grave que pode evoluir para óbito. Se houver suspeita de meningite bacteriana, é fundamental introduzir os medicamentos adequados o quanto antes. O risco de sequelas graves cresce à medida que se retarda o diagnóstico e o início do tratamento. As lesões neurológicas que a patologia provoca podem ser irreversíveis”, adverte o médico. A principal forma de prevenir a meningite é por meio da vacinação.

Vacina em dia

Ainda de acordo com o levantamento, um diferencial dos pais brasileiros é que estes têm maior probabilidade de recuperar a situação de abandono vacinal, com 76% dos entrevistados afirmando que é provável que atualizem o calendário vacinal dos filhos assim que as restrições forem suspensas, contra 66% na média dos oito países pesquisados.

O estudo ainda concluiu que mais de três quartos dos pais e responsáveis legais (77%) pretendem reagendar a vacinação contra meningite de seus filhos. Ao contrário desse grupo, porém, 21% disseram que não agendarão novamente essa vacinação, com a maioria desses pais (11%) justificando a posição pelo medo, ainda presente, de contrair COVID-19 em espaços públicos.

Trindade reforça ainda a importância do cartão de vacinas estar em dia e a gravidade da enfermidade. “Na doença causada pela bactéria neisseria meningitidis, além das crianças, os adolescentes e adultos jovens têm o risco de adoecimento aumentado em surtos. Entretanto, a população mais vulnerável são as crianças de até um ano, com um segundo pico da patologia ocorrendo em menores de 5 anos. Já tivemos algumas epidemias no Brasil e a mais emblemática foi nos anos 70, época da ditadura militar, com predominância da bactéria meningococo. Os surtos aumentaram exponencialmente o número de óbitos na faixa pediátrica, além de elevar o índice de pessoas sequeladas pela doença”, conclui.