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Conseguir prover o básico é a maior preocupação de 35% dos consumidores

O brasileiro está preocupado em como arcar com os gastos mínimos para sobreviver. De acordo com levantamento da Acordo Certo, empresa de renegociação de dívidas, o sentimento da população sobre os gastos fixos se divide entre preocupação (70%) e ansiedade (65%). Das angústias, a principal é o medo de não conseguir prover o básico (35%). Também foram citadas não conseguir pagar as dívidas (34%) e ficar com o nome negativado (34%).

Ainda de acordo com a pesquisa, contas de luz (71%), compras de mercado (65%), gás (62%), água (56%) e despesas médicas (42%) foram os gastos que mais tiveram aumento para os consumidores durante quase um ano de pandemia. Somado ao aumento dos custos está o endividamento das contas, liderado pelo cartão de crédito (43%), negociação de dívidas (29%) e parcelamento de loja (26%). Além disso, empréstimo (23%), luz (19%), telefone (15%) e água (14%) aparecem no ranking.

Para o professor e mestre em administração Leandro César Diniz, o cenário atual é uma consequência de anos de salário mínimo defasado. “Vivemos o pior momento financeiro das famílias, porém esta é uma questão que já vem se acumulando nos últimos 15 anos, no qual a recomposição salarial dos núcleos familiares nunca conseguiu fazer frente à inflação das gôndolas. O salário é calculado em cima da taxa de inflação de uma cesta de centenas de produtos, porém existe uma série de itens e serviços que as famílias consomem que sobem até 30% e 40%, o que não é compatível com o índice calculado dos produtos básicos de sobrevivência, que fica na média de 5%”, explica.

Roberto Góis, diretor de Novos Negócios da Acordo Certo, defende que em momentos críticos é preciso eleger prioridades. “O principal, apesar das contas apertadas, é construir um planejamento financeiro, mesmo que simples, de entrada e saída, justamente para entender qual a situação a pessoa está neste exato momento e o que de fato pode ser feito em duas frentes: o pagamento de dívidas e arcar com as despesas essenciais como contas de consumo e alimentação”, diz.

Sobre a expectativa de melhoria na economia, Góis é realista. “O auxílio emergencial trará, sem sombra de dúvidas, um fôlego a mais para a população, mas estamos diante de uma crise sem precedentes, com o índice de desemprego cada vez maior e diminuição da jornada de trabalho. A quitação de débito para contas de consumo essenciais, sempre é uma prioridade, mas vemos que possivelmente entre pagar uma dívida e comprar uma cesta básica, certamente o essencial prevalecerá”.

Para o professor Diniz, as projeções para economia dependem do segundo semestre deste ano. “Se as expectativas se confirmarem e, de fato, em setembro e outubro tivermos uma vacinação em massa da população, ou seja, trabalhadores de empresas, comércios e indústrias, é possível uma recuperação econômica no final do ano com o aumento do turismo, eventos, restaurantes e bares abertos. Mas, tudo depende da imunização, sem isso, o ano de 2021 será praticamente perdido economicamente”, afirma.

Fome já é realidade
Se os preços nas gôndolas assustam uma parcela da população, outra imensidão de brasileiros sequer tem acesso a elas. Nos últimos 3 meses de 2020, mais de 19 milhões de pessoas estavam passando fome no Brasil e cerca de 116 milhões de brasileiros não tinham acesso total e permanente a alimentos, o número corresponde a duas vezes a população da Argentina. É o que revelou o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da COVID-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan).

Junto ao aumento da insegurança alimentar no país, as desigualdades regionais também se acentuaram. Se no país todo, a média é de 9% de brasileiros passando fome, no Nordeste esse número salta para 13,8% e no Norte, 18,1%. Além disso, domicílios chefiados por mulheres, habitados por pessoas pretas e pardas e com baixa escolaridade são as que mais amargam com a fome no país.