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Abril Azul: uma em cada 160 crianças tem Transtorno do Espectro Autista

No calendário da Saúde, o mês de abril é voltado para a conscientização mundial do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), o autismo afeta uma em cada 160 crianças no mundo. A condição que, na maioria dos casos, aparenta sinais durante os primeiros 5 anos, persiste na adolescência e vida adulta.

“É um transtorno do neurodesenvolvimento, o que significa que a criança já nasce com essa dificuldade. Os sinais aparecem mediante a gravidade. Nós temos autismo leve, moderado e grave. No leve, a criança apresenta poucos indícios, que podem até passar despercebidos, muitos nem sabem que têm o diagnóstico. Mas o moderado e grave têm uma quantidade e uma intensidade de sintomas bem visíveis. O primeiro é a dificuldade na interação social, o segundo é a dificuldade de comunicação e o terceiro são alterações comportamentais”, esclarece a psicopedagoga, psicanalista e pós-doutora em neurociência, Ângela Mathylde.

A especialista em neurociência explica que o diagnóstico de TEA deve ser precoce e realizado com análise de médicos e de uma equipe multidisciplinar. “É preciso focar nos sintomas. Por exemplo, se há dificuldade de interação social, como não conseguir olhar nos olhos, apresentar risos e gargalhadas inadequadas, não gostar de carinho, afeto, toque, ter dificuldade de se relacionar com outras crianças e repetir sempre a mesma coisa, o mesmo brinquedo ou a mesma brincadeira. Dentro das dificuldades de comunicação, ela, às vezes, tem problemas de linguagem ou a praxia junto, ou mesmo alguma comorbidade na área fonoaudiológica ou da linguagem, o que contribui para essa dificuldade. Nesse caso, acontece dela repetir muito a mesma fala ou mesmo ficar quieta”.

Ângela acrescenta que, em muitos casos, a criança sempre se coloca na terceira pessoa, repete perguntas muitas vezes, mantém a mesma expressão no rosto, tem dificuldade de mostrar sentimentos e, quando revela, vem junto de um desconforto. “Ela não responde, olha para o canto ou para a parede e, quando rebate, faz com um tom pedante. Já os sinais comportamentais são mais nítidos. Por exemplo, apresentar medo e rituais e brincadeiras estranhas”, diz.

Sobre as possíveis causas para o autismo, a OMS esclarece que existem evidências científicas que sugerem inúmeros fatores que tornam uma criança mais propensa a ter TEA, incluindo os ambientais e genéticos. Entretanto, diferente dos rumores que circulam na internet, não há evidência de uma associação causal entre a vacina contra sarampo, caxumba e rubéola e o transtorno do espectro autista.

Outra questão ressaltada pela OMS é que, uma vez que um membro da família é diagnosticado com TEA, todos do núcleo familiar necessitam de apoio especializado. “A cura para o transtorno não foi desenvolvida. No entanto, intervenções psicossociais baseadas em evidências, como o tratamento comportamental e programas de treinamento de habilidades para pais e outros cuidadores, podem reduzir as dificuldades de comunicação e comportamento social, com impacto positivo no bem-estar e qualidade de vida da pessoa. As necessidades de cuidados de saúde dos indivíduos com TEA são complexas e requerem uma gama de serviços integrados, incluindo promoção da saúde, precauções e serviços de reabilitação. Os TEA, muitas vezes, impõem uma carga emocional e econômica significativa sobre as pessoas e suas famílias. Cuidar de crianças em condições mais graves pode ser exaustivo, especialmente onde o acesso aos serviços e apoio é inadequado. Portanto, o empoderamento dos cuidadores é cada vez mais reconhecido como um componente fundamental das intervenções de cuidados para crianças nessas condições”, informa a entidade.

Ângela ainda ressalta a importância do diagnóstico nos primeiros anos de vida. “Quando os indícios de autismo passam despercebidos na infância, a pessoa na vida adulta consegue criar estratégias de convivência. Então, quando isso acontece, a gente percebe ausência de amigos ou há alguns, mas não há contato regular e presencial intenso e relação limitada ao círculo familiar. É comum que ela seja mais reclusa e fique dentro de casa, além de ser incapaz de ter autonomia para trabalhar e desenvolver a profissão. Ademais, sintomas de depressão e ansiedade também podem surgir porque a dinâmica social é intensa e ela tem essa dificuldade”, conclui.