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Pandemia não acabou, mas já deixou herança de novos hábitos para saúde

Foi numa fatídica quarta-feira, 26 de fevereiro, que o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso de coronavírus no Brasil. Daquele dia em diante, suspensão de aulas, decretos de fechamentos, novas leis, multas, quarentenas e até lockdowns fariam parte do nosso cotidiano, tudo para evitar o colapso do sistema de saúde local. Passados 10 meses, a adaptabilidade ocupou o lugar do pânico. E apesar dos traumas e as mais de um milhão de vidas perdidas em decorrência da COVID-19 no mundo serem os principais legados da doença, os profissionais da saúde concordam que, assim como sobreviver a guerras mundiais mudou o curso da humanidade, a pandemia deixou uma herança de novos hábitos em relação à saúde.

Cuidado com infecções

O principal especialista e, talvez, o mais ouvido no ano de 2020 foi o infectologista. E é nesse campo da saúde que nossa mudança de hábitos ficou mais evidente. Como explica Ana Helena Germoglio, infectologista e coordenadora do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Águas Claras, a pandemia fez alterações que demoraríamos décadas para implementar voluntariamente ganharem adesão nacional. “A necessidade de boa higienização das mãos, prática defendida desde o século XIX, vem sendo repetida como mantra desde o início da pandemia. Um gesto tão simples e antigo, mas que ainda estava longe de ser uma realidade incorporada à nossa rotina diária. Agora, esta é uma prática regular e que deve e precisa ser mantida, pois, além de ajudar a controlar a transmissão do novo coronavírus, também faz parte da prevenção de várias outras doenças”, avalia.

Para o pneumologista Thiago Fuscaldi, as máscaras ainda vão fazer parte da nossa rotina por um bom tempo. “Até que tenhamos uma vacina disponível e grande parte da população imunizada, temos a necessidade do uso da proteção. Mesmo depois, a tendência é que o hábito seja incorporado, especialmente nos cuidados com as infecções virais. Pessoas com sintomas de doenças respiratórias contagiosas devem seguir as mesmas orientações de agora, como evitar o contato com outras pessoas, usar máscara ao sair de casa, passar álcool gel e lavar as mãos com frequência”, diz.

Para Fuscaldi, a consciência sobre a necessidade da mudança no estilo deve partir, principalmente, dos grupos de risco: idosos, pessoas com comorbidades ou alteração da imunidade e pacientes quimioterápicos, por exemplo. “Estes indivíduos, sem dúvida, devem sempre fazer o uso de máscara, evitar aglomerações e manter hábitos de higiene”, aconselha.

Cuidado com o corpo

A alimentação também foi uma área da saúde diretamente afetada pela quarentena. “O isolamento social, a alimentação frequente em casa e o menor acesso a alimentos frescos levou a um aumento de consumo de alimentos processados, fast food e delivery, contribuindo assim para um ganho de peso considerável durante a pandemia. Isso, sem contar o aumento do sedentarismo por conta da falta de exercícios físicos”, analisa a nutróloga Juliana Tepedino.

Para ela, só se muda esse cenário com informação de qualidade. “Na alimentação, é importante organizar as comidas em casa para que sejam mais adequadas. É possível pedir delivery, mas que sejam comidas mais saudáveis. Outro ponto importante é estar atento às porções de alimentos consumidos. A quantidade, principalmente daqueles muito calóricos, pode ser o principal problema relacionado ao ganho de peso. Além disso, é importante limitar o sal, o açúcar e a gordura; aumentar o consumo de fibras, frutas, verduras e alimentos integrais; beber mais água e evitar o hábito de consumir bebidas alcoólicas diariamente. Não podemos esquecer também da prática de exercícios físicos regulares, em casa ou ao ar livre. Por fim, mas não menos importante, evitar passar o dia todo sentado ou deitado”, receita a especialista.

Cuidado com a mente

Outro campo abalado e colocado à prova diante de tantas mudanças bruscas foi o da saúde mental. Para Meire Rose Cassini, psicóloga e coordenadora da psicologia do Hospital Felício Rocho, a convivência com as incertezas, a importância da coletividade e do cuidado com os mais vulneráveis são algumas das lições da pandemia para psique humana.

“Em tempos de distanciamento social, redução das opções de lazer, inúmeras perdas e lutos, sejam elas da ordem pessoal, financeira ou a morte de quem amamos, vimos o desenvolvimento de sintomas de depressão e ansiedade levando ao adoecimento mental e suicídio. Muito se falou sobre medidas de prevenção para distúrbios psicológicos, sendo veiculadas na mídia e redes sociais, medidas de combate e alívio do estresse e manejo da ansiedade, por exemplo. Enquanto profissionais, vimos o número de queixas psicológicas aumentar, mas também observamos mais pessoas procurando por atenção e cuidado à saúde mental. Muitas ações não-governamentais foram criadas, a fim de prestar apoio e suporte emocional a quem precisasse. Muitas empresas atentas ao sofrimento dos funcionários, instituíram serviços de saúde mental dentro da instituição, como apoio psicológico e espaços de descompressão”, acredita.