“Mamãe, eu sou feia”. Foi essa frase que a dona de casa Graziela Bernadino ouviu de sua filha Maria Clara, de 7 anos, enquanto penteava seu cabelo. Há alguns dias, observava que a filha estava desanimada, meio irritadiça, retraída e com dificuldades para dormir, sinais característicos de uma criança com baixa autoestima.
“A gente fala tanto sobre isso, mas não pensamos que nossa personalidade e sentimentos são formados já na infância. Nunca havia pensado em me atentar a essa questão, em buscar formas de criar na minha filha um amor-próprio, uma autoestima elevada. Minha ficha só caiu ao vê-la cabisbaixa e se sentindo feia, foi um baque grande”, revela.
Graziela decidiu conversar com a pediatra da filha que a aconselhou a fazer uma visita a um psicólogo. “Ela disse que o ideal seria eu e meu marido fazermos um acompanhamento também, isso porque na idade da Maria Clara a influência dos pais é grande. Buscamos maneiras de melhorar para que ela se sinta melhor e estamos caminhando”.
A psicóloga Daniela Generoso explica que a autoestima é um dos elementos favoráveis a uma personalidade sadia e um adulto funcional. “É dever dos pais fortalecê-la e gerar autoconfiança no ser”. Ela acrescenta que desde pequeno é importante estimular isso. “Um grande exemplo é quando ela começa a andar e cai. Nosso impulso natural é ir socorrer, mas é importante fazer com que a criança acredite nela mesma, possa se levantar sozinha e continuar tentando. Ela só precisa saber que o adulto está ali presente”.
A especialista ressalta que diálogo e exemplos são formas significativas para trabalhar a autoestima. “Palavras de incentivo como ‘você é forte’, ‘você pode chorar, mas precisa tentar novamente’ e o fortalecimento de vínculo quando ocorrer uma ação negativa com expressões como ‘te aceito como você é’, ‘essa atitude não é correta, mas juntos vamos acertar’ são fundamentais”.
Daniela afirma que a criança com baixa autoestima apresenta diversos sinais. “Transtornos alimentares; irritabilidade; alterações no nível de atividade junto com condutas agressivas ou regressivas; sentimentos profundos de tristeza e desesperança; transtorno de atenção; síndrome da acomodação e vitimização; mau relacionamento com pais e dificuldade em fazer amizade”.
Segundo ela, o pequeno também deixa de participar de atividades escolares e sociais. “Pode-se ter uma queda no rendimento escolar; dificuldade de concentração; transtorno do sono; retraimento; depressão ou ansiedade e ideias suicidas ou desesperança de que as pessoas não a amam”.
Para trabalhar a autoestima do filho é preciso também exercitar a dos pais, pois eles também erram, choram e passam por dias improdutivos. “No entanto, o que eles fazem quando a frustração chega é o que vai determinar como essa criança vai agir”. Daniela adiciona que a infância é um momento importante de se trabalhar autoestima, pois, nessa fase, existem marcos que podem determinar a vida. “Quando adulto, a gente pode até vencer barreiras criadas no início, mas o caminho para chegar até lá pode ser muito dolorido. Quando pequeno, o sistema neural tem mais plasticidade para o aprendizado e podemos somar todas as experiências para formamos quem seremos”.
A psicóloga conclui dizendo que uma criança com autoestima baixa se torna um adulto que não acredita em si. “Não consegue desenvolver relacionamentos saudáveis, tem dificuldade de crescer profissionalmente, descontrole emocional, podendo até gerar transtornos de personalidade”.